Os intocáveis

Reunido para discutir as próximas eleições, o diretório nacional do PT preferiu mudar o foco de sua pauta para tomar a defesa do ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Não se fez uma defesa da política econômica que impõe ao País e o presidente Lula chancela, mas sim a tomada de uma posição que coloca o ex-prefeito de Ribeirão Preto na mesma trincheira reservada até aqui ao presidente da República. Palocci é intocável.

Defendem-no não por suas idéias e atos como ministro no exercício de suas funções, mas em razão de que o depoimento de um motorista andou confirmando que Palocci participava de misteriosas reuniões que gente de sua equipe presente e da turma de Ribeirão vinham fazendo numa casa alugada em Brasília.

Esses auxiliares não negam a ocorrência das reuniões, mas o ministro declarou que nunca esteve na dita casa. O motorista testemunha que lá o viu pelo menos por uma dezena de vezes.

Por que estranhar e negar tais reuniões? É que a equipe ligada a Palocci tem sobre si diversas e graves acusações, ainda não provadas, que vão de negócios com os bingos até o transporte de dólares de Cuba para financiar a campanha eleitoral de Lula e dos demais petistas que com ele assomaram ao poder. Ainda, velhas histórias de corrupção quando o ministro era prefeito de Ribeirão Preto.

O depoimento do motorista reacendeu a campanha contra Antônio Palocci e isso criou reações não só no Ministério da Fazenda, como no próprio Palácio do Planalto e no diretório nacional do PT. Este mudou a pauta de sua reunião de sábado e, ao invés de discutir rumos da campanha eleitoral, resolveu levantar uma barricada de proteção ao ministro da Fazenda, considerando o recrudescimento das denúncias tentativa da oposição de derrubá-lo do cargo. E novas tentativas de levá-lo, mais uma vez, para ser ouvido no Congresso ou em suas CPIs.

Criaram ?intocáveis? nessa pandemia de escândalos que rodeiam e interpenetram o governo, o Congresso, o PT e os seus partidos ainda aliados, além de parcelas das oposições. Em nenhuma democracia séria seria admitido o denuncismo irresponsável. Em nenhuma democracia séria seria denuncismo colocar sob suspeita um ministro da Fazenda e mesmo o presidente da República, quando ambos estão cercados de escândalos, muitos dos quais provados. Sua co-autoria pode inexistir, mas restam sólidas razões de Estado para que sejam investigados. Se não pelos motivos éticos, que já seriam sobejos, em razão de que um e outro, unidos e em conjunto, praticam uma política econômica que tem a condenação de grande parte da oposição, do situacionismo e, agora, também da Igreja Católica, através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e do empresariado, pela palavra da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Assim, a auditiva do ministro e mesmo do presidente da República deveriam ser admissíveis, se as circunstâncias forem graves e recomendem. Pouco recomendável que se use de uma reunião do diretório nacional do partido do governo, o PT, que na verdade é uma nova cúpula porque a outra perdeu-se num mar de lama, para se baterem com dedicação total, unânime e exclusiva, transformando Palocci e Lula em ?intocáveis?, não só porque ninguém está acima de quaisquer suspeitas, como ?intocável? não pode ser a política econômica que praticam e que hoje todo o País considera contrária aos interesses nacionais, inclusive considerável parcela dos petistas.

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