Operação Navalha

O presidente Lula está preocupado com a Operação Navalha, mais uma investida da Polícia Federal contra a corrupção. O ministro Tarso Genro, da Justiça, um dos melhores quadros do PT e do governo, conhecido por ter sido sempre uma voz moralizadora em meio ao mar de lama que em maré baixa a administração vinha se afogando, tem municiado o presidente da República com informações. O que se vê é que o novo escândalo é a ação de uma máfia montada em vários estados, municípios e na União para roubar dinheiro na construção de obras públicas. E os pilantras já se preparavam para atacar os projetos do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento, a viga mestra da segunda administração Lula. O negócio é arrancar dinheiro de tudo o que seja obra pública e, quando dá, inventar alguma, nem que sejam pontes ligando nada a coisa nenhuma.

No comando dessa nova quadrilha está um tal de Zuleido Soares Veras, dono da construtora baiana Gautama, que se diz budista e cujo nome deve estar dando dor de barriga no santo dos hindus. Ele montou uma equipe de corruptores de três andares e uma lista de corrompidos e corrompíveis na qual não faltam, por óbvio, gente do atual governo e muitos parlamentares das bases situacionistas e da oposição. Esse é um esquema criminoso no qual já apareceram, como suspeitos e indiciados, e alguns estão presos, elementos de vários partidos. A linguagem comum, que não é programática nem ideológica, é a do dinheiro. Se dá para comprar, não importa o partido, mas a possibilidade de ajudar a rapinar o dinheiro do povo.

Há uma lista de parlamentares, inclusive senadores, e já se suspeita de um dos mais importantes das hostes governistas. Seus nomes não são revelados porque abrigados no sigilo em que se desenvolvem os inquéritos. Mas se informa que nessa lista apreendida pela Polícia Federal, ao lado de cada nome está uma importância em dinheiro ou discriminado um presente. São tantos mil reais para este, tantos para aquele, um automóvel para fulano e até um passeio a Salvador com direito a assistir ao Carnaval no camarote da Gautama.

As maracutaias foram armadas contra prefeituras, governos estaduais e o federal. Em quase todos os casos, defeitos do nosso sistema federativo que tanto beneficiam a União e acabam por comprometê-la. É que quase todas as obras que os estados e municípios fazem requerem uso de recursos do governo federal repassados a fundo perdido ou não. Mas serão sempre a fundo perdido para os contribuintes. Quase meia centena de figurões foram para a cadeia. Até ex-governador. E movimentam-se advogados (no cumprimento do seu dever profissional) para, aproveitando a nossa leniente legislação, conseguir a soltura de seus clientes. Alguns já estão respirando o ar da liberdade, depois de algumas horas na cadeia.

O ditado é que uma maçã podre num saco de maçãs boas pode estragar todas. Usando a mesma figura, estamos prestes a acreditar que esse saco descoberto pela Polícia Federal é só de maçãs podres. O insano trabalho das autoridades que ainda são honestas e dos eleitores que insistem em melhorar os nossos quadros dirigentes é identificar algumas maçãs boas e afastá-las desse saco de maçãs podres. Os corruptos, que idealmente desejamos sejam minoria, cada dia mais nos parecem uma minoria muito grande. Descobrir gente honesta na política e na administração pública é, cada dia mais, buscar uma agulha num palheiro. O filósofo Diógenes, que vivia num tonel e usava um lampião para procurar um homem honesto, aqui estaria desempregado.

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