Operação abafa

No burburinho da crise moral e política em que está engolfada a República surgem duas operações abafa. De um lado, o Executivo, com a participação não confessa, mas visível, do presidente Lula e mais a corrente majoritária do PT e seus aliados, buscam proteger os deputados apontados para cassações. Têm o apoio e as fórmulas engendradas descaradamente pelo presidente da Câmara Federal, o pernambucano Severino Cavalcanti (PP), a declarar que cassações são punições demasiado severas para quem cometeu os crimes até agora denunciados, e muitos provados. Estaria ele tomado pelo espírito corporativista e pressionado pelas bases do seu próprio partido, o PP. Entendendo que só partidos políticos e a mesa da Câmara podem pedir cassações, busca anular o trabalho das comissões de inquérito, que, criadas de forma plural, até aqui fizeram trabalhos paralelos, do que resultou uma certa confusão que o presidente do Senado, Renan Calheiros, tenta corrigir. Quer que as comissões unam suas investigações e conclusões, para que resulte um relatório, se não único, unificado no que respeita à denúncia dos envolvidos nas maracutaias.

Lula continua repetindo, em discursos de improviso que faz às massas em qualquer ocasião que se lhe apresente, que os culpados serão punidos, mas ao mesmo tempo adverte que é preciso muita paciência e preservar muitos acusados que podem ser inocentes. E indigita as oposições como responsáveis por uma espécie de golpe contra o seu governo. Todas as denúncias partiram de gente do próprio presidente e os denunciados pertencem ao PT e a partidos aliados. Busca ainda colar sua imagem à de Juscelino Kubitschek, dizendo-se vítima, como o popular presidente que construiu Brasília. Só que qualquer pessoa que conheça um pouco da história recente do Brasil e compare as personalidades e os modos de atuação de Lula e JK conclui, com facilidade, que são figuras absolutamente opostas. JK era um realizador, o homem que buscou fazer o Brasil crescer 50 anos em 5, que fez Brasília contra tudo e contra todos e enfrentou duas quarteladas, acabando por consagrar sua grandeza indultando os revoltosos. Lula fez alguma coisa, pelo que diz e repete? Obras pouco visíveis. E não se apresenta como um governante de grandes e prontas decisões.

A primeira operação abafa é a tentativa de transformar tudo em pizza, buscando satisfazer a opinião pública com duas ou três cassações e alguns puxões de orelhas.

A outra operação abafa começa a se concatenar agora, tanto nas oposições quanto nas hostes governistas da banda boa, que não aceitam a continuidade do poder nas mãos da banda podre. Aí estão, dentre outros, os petistas ortodoxos, que já constituíram uma dissidência e ameaçam abandonar o partido. Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação, petista histórico, já abandonou o PT. Foram por ele defenestrados políticos que não concordaram com a reforma da Previdência, contrariando as promessas feitas aos trabalhadores. E mais de vinte dissidentes ameaçam também sair do partido, o que certamente farão se a operação abafa dos fabricantes da grande pizza der resultado.

Esquecem-se todos de um terceiro grupo, o povo. Se abafarem esses escândalos e não punirem os responsáveis, a nação dará resposta contundente nas urnas. Talvez, antes, nas ruas…

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