OMC espera que Mantega mantenha política de Antonio Palocci

A Organização Mundial do Comércio (OMC) espera que a orientação da economia brasileira defendida pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci seja mantida. Hoje, em uma conferência de imprensa, o diretor da OMC, Pascal Lamy, deixou claro que aposta que o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuará com a mesma política defendida por Palocci. Lamy ainda reconhece que diante de eleições em vários países no segundo semestre, entre eles o Brasil, terá de acelerar o máximo possível as negociações da OMC até julho. "O que é importante é a política dos Estados. Se eu entendi bem o sentido dessa mudança e as declarações do novo ministro (Mantega), não tenho razão para pensar que haverá mudança na política agressiva e ativa do Brasil, assumindo suas responsabilidades", afirmou Lamy que embarca na quinta-feira para o Rio de Janeiro para participar da reunião entre o Brasil, Estados Unidos e União Européia (UE).

Apesar de ir ao Rio, Lamy continua a rejeitar a idéia do governo brasileiro de realizar uma cúpula de chefes-de-Estado para destravar a negociação. A "responsabilidade" citada por Lamy pode ser entendida, segundo diplomatas, como a necessidade de o Brasil também flexibilizar sua posição para permitir um acordo na OMC. O Ministério da Fazenda era, dentro do governo, quem mais apoiava a liberalização das tarifas de importação para bens industriais, um dos temas mais debatidos na OMC. Um documento que acabou vazando para a imprensa no ano passado mostrou que a Fazenda estava disposta a fazer cortes de até 75% nas tarifas nacionais.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Ministério do Desenvolvimento reagiram contrariamente à proposta Hoje, a delegação brasileira voltou a insistir na reunião da OMC que o setor de produtos industriais "não é o problema" nas negociações. "Os países em desenvolvimento já se comprometeram a fazer mais que na Rodada Uruguai. Se não concluirmos a rodada até o final do ano, não será por causa dos produtos industriais" afirmou um negociador brasileiro.

Mas segundo Lamy, o Brasil terá de flexibilizar sua posição em relação às tarifas para bens manufaturados, uma exigência da Europa e Estados Unidos para que dêem em contrapartida maior acesso para os produtos agrícolas brasileiros. Por enquanto, o Brasil aceita apenas um corte de 50%, mas já insinuou que poderia acatar até mesmo uma redução de 65% em suas tarifas. "Todos terão de fazer concessões", afirmou o diretor da OMC.

Na entidade, a queda de Palocci chegou a ser tema comentado nos corredores. No gabinete de Lamy, seus assessores se mostravam informados sobre o escândalo e já tinham as primeiras avaliações sobre Mantega. "Ouvimos dizer que ele manterá a política de Palocci", afirmou um desses assessores. Para Lamy, o Brasil continuará sendo um "ator extremamente chave dessas negociações" Mas o diretor reconhece que o processo na OMC terá de ser acelerado no primeiro semestre diante das eleições que ocorrem no Brasil em outubro e no Poder Legislativo nos Estados Unidos. "Sabemos que há eleições em vários países. Por isso, o primeiro semestre é crucial dentro desse triângulo (Brasil, Estados Unidos e Europa)", afirmou.

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