O significado da cultura

Ao falar da significação da cultura, não se pretende aludir ao conceito estabelecido pelo senso comum, o qual dirá que ?cultura é tudo o que é produzido pelo homem que o difere dos animais?. Este conceito não deixa de ser uma verdade, mas para compreendermos o significado da cultura precisamos ir além.

Para os autores Clifford Geertz e Michel de Certeau, cultura denota um padrão de significados incorporados aos símbolos e historicamente transmitidos. Expressões de forma simbólicas por meio dos quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seus conhecimentos e suas atitudes em relação à vida.

A cultura assim entendida, não diz respeito só aos cultos, costumes e a produção humana, mas a uma estrutura de significados através das quais os homens dão forma à suas experiências. O termo significado, em todas as suas variantes, está intimamente ligado ao conceito filosófico dominante da época na qual a definição de cultura esta sendo empregada. O significado torna-se intelectualmente razoável porque demonstra representar um tipo de vida idealmente adaptado ao estado de coisas atual que a visão de mundo descreve, enquanto esta visão de mundo torna-se emocionalmente convincente, por ser apresentada como imagem de um estado de coisas verdadeiro, especialmente bem arrumado para acomodar tal tipo de vida. Para que essa acomodação ocorra de maneira eficaz na sociedade é necessário que seus agentes introduzam suas próprias representações simbólicas. Os símbolos, assim como a cultura, possuem uma gama de significados, por vezes o mesmo símbolo representa várias coisas ao mesmo tempo – para alguns ele é usado para qualquer outra coisa que significa uma outra coisa para alguém A concepção assim, é o próprio significado dos símbolos, que possuem formulações tangíveis de noções, abstrações da experiência fixadas em formas perceptíveis, incorporações concretas de idéias, atitudes, julgamentos, saudades ou crenças.

No que concerne ao sistema complexo de símbolos, o traço marcante é que eles representam fontes extrínsecas de informações e, como tal, eles estão fora dos limites do organismo do indivíduo e se estabelecem em um mundo intersubjetivo de compressões comuns, no qual nascem todos os indivíduos modelados por um comportamento público.

Devido à extrema generalidade, disseminação e variedade da capacidade de respostas inatas do homem, ele se torna incompleto e por si só não se estabelece. Necessita assim, criar estruturas e padrões culturais que modelem seu comportamento orgânico em sociedade. Dessa maneira, o homem pode adaptar-se a qualquer coisa que sua imaginação possa enfrentar, só não pode enfrentar o caos.

A existência da dor, a perplexidade e o paradoxo moral são coisas que causam sofrimento e impulsionam os homens para a crença em deuses ou demônios, que possam os tirar desse estado de angustia. Mas essa não é a base onde repousam tais crenças, e sim seu campo de aplicação mais importante, o campo das manifestações simbólicas, dos significados.

É desse ?casamento? que resulta a força da religião – entre a incompletude do homem e os padrões culturais de um grupo, intelectualmente razoáveis para representar um tipo de vida idealmente adaptado ao estado de coisas – é na esfera religiosa que o homem encontra a fonte da ordem, da harmonia, do equilíbrio, sempre tão ausente e sempre tão desejado em sua vida. A perspectiva religiosa é uma forma particular de olhar a vida, uma maneira particular de construir o mundo. A proposição desta perspectiva é sempre ?aquele que tiver que saber precisa primeiro acreditar?. (Cliffor Geertz).

A perspectiva religiosa, para aqueles que crêem, ultrapassa as percepções cotidianas, porque se move além das realidades da vida em direção a outras mais amplas, que as corrigem e completam, e sua preocupação definidora não é a ação sobre essas realidades mais amplas, mas sua aceitação, a fé nelas. A perspectiva religiosa repousa no sentido do ?verdadeiramente real? e as atividades simbólicas da religião como sistema cultural se dedicam a produzir, intensificar e tanto quanto possível, torná-lo inviolável.

Assim, o significado cultural religioso repousa na crença em um sistema de símbolos que atuam para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens, através da formulação de conceitos fundamentados em uma ordem de existência geral e vestindo essas concepções com tal aura de atualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas.

Portanto, a perspectiva religiosa dessa maneira representada pelas estruturas simbólicas, que possuem seu significado de acordo com a concepção da cultura em determinado tempo e lugar, traz ao olhos as múltiplas fases do sagrado presentes na sociedade plural, marcando a maneira de ser e de viver de todos os envolvidos no processo de socialização.

Advém desse pressuposto, o Artigo XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos que versa que ?toda a pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletiva, em público ou em particular?. Daí a necessidade de respeitabilidade, solidariedade e principalmente a construção da cidadania, em um mundo marcado pelas diferenças.

O Ensino Religioso dentro desse contexto apresenta-se como o ?estudo do fenômeno religioso à luz da razão humana? (PCNER). Esse estudo reúne o conjunto de conhecimentos ligados ao fenômeno religioso, ao transcendente e ao sagrado em números reduzidos de princípios, que lhe servem de fundamento e lhe delimitam o âmbito da compreensão. Assim, promover para os educandos a oportunidade de se tornarem capazes de entender os momentos específicos das diversas culturas e seus significados, cujo o substrato religioso colabora no aprofundamento para a autêntica cidadania é papel desta disciplina na escola.

Diante disso, a escola deve ajudar o educando a adquirir instrumentos universais que o auxiliem na busca de viver e dar significações para sua existência ao longo da história, desenvolvendo as mais variadas formas de relacionamento com a diversidade plurireligiosa, na tentativa de superação dos preconceitos a favor da respeito às diferenças.

* Para maiores informações sobre o Ensino Religioso consulte www.gper.com.br

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