O “ranking” da corrupção

Como “corvo não come corvo”, o levantamento dos países mais corruptos do mundo é feito por uma ONG – organização não-governamental – denominada Transparência Internacional. Se fosse feito por algum organismo de governo, haveria mais perdões que condenações e muita corrupção passaria como coisa normal, impropriedade administrativa. É bom que se esclareça que essa ONG mede a corrupção considerando governo, mas também, e até principalmente, empresas privadas. Nestas, há sempre corrupção, não raro nos negócios com o governo. No Brasil, isso acontece com freqüência. O mais recente levantamento da Transparência Internacional é um pouco melhor para nós que o anterior, mas ainda assim considera que a percepção da corrupção no Brasil se mantém estável. Para eles, uma questão de critérios. Para nós, depende de sermos otimistas ou pessimistas, pois tanto podemos nos colocar como o 45.º país mais honesto de 102 estudados, ou o 57.º no “ranking” dos mais desonestos. Mas estamos melhorando. No ano passado estávamos em 46.º entre os mais honestos; e no ano 2000, em 49.º. Há menos podridão, mas a coisa ainda cheira mal. Numa escala de 0 a 10, temos nota quatro. São considerados pouco corruptos os países que têm notas acima de 7.

O Brasil está abaixo do Chile, que recebeu nota 7,5 (pouco abaixo dos Estados Unidos, com 7,7 e da Alemanha e Israel, ambos com 7,3). Perdemos também para Trinidad e Tobago (4,9) e Costa Rica (4,5). A Argentina piorou sua situação e está em 70.º lugar, O país mais corrupto da América do Sul é o Paraguai, reprovado com a nota ridícula de 1,7. Pior que o país vizinho, só a Nigéria (1,6) e Bangladesh (1,2).

Verifica-se que corrupção existe em todos os países, mas em alguns é mínima. São menos corruptos os mais desenvolvidos econômica e socialmente e, em geral, são democracias. As ditaduras se situam, quase sempre, entre os mais corruptos. Num enfoque otimista, destaquemos os 10 países com menor nível de corrupção: Finlândia, Dinamarca, Nova Zelândia, Islândia, Cingapura, Suécia, Canadá, Luxemburgo, Holanda e Reino Unido, que vão da nota máxima de 9,7 à mínima de 8,7. O país mais corrupto do mundo é Bangladesh, com a nota 1,2. Lá vende-se até a mãe. Só que não entregam.

Um dado a ser estudado é que os países mais honestos ficam em geral no hemisfério norte. Interessante notar que o Chile figura entre os de menor índice de corrupção na América Latina. Coincidência ou não, é o país desta região com maior desenvolvimento econômico, adotando uma política de livre mercado e aproximando-se dos Estados Unidos, via Alca.

A Transparência Internacional critica os candidatos à Presidência do Brasil por não atacarem, na campanha eleitoral, a corrupção, e não apresentarem propostas para seu combate permanente. Lembram que, nesta hora de turbulências no mercado financeiro e de capitais, há a tendência de evitar aplicações em países onde haja elevado nível de corrupção. Um país honesto merece confiança dos investidores. O relatório da ONG não se refere e muito menos analisa uma verdadeira revolução que hoje ocorre no Brasil, com o novo papel do Ministério Público. Este, independente e agindo muitas vezes ex officio, tem cassado corruptos em todo o território nacional; promotores e procuradores às vezes correndo até riscos pessoais. Hoje, no Brasil, não mais há certeza de impunidade. Há sim, o risco de punição.

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