O que quer o PMDB?

O presidente do PMDB de São Paulo e ex-governador daquele estado, Orestes Quércia, conseguiu a convocação de uma reunião dos 27 presidentes regionais da agremiação para hoje, sexta-feira, em Curitiba.

Para o encontro, segundo a imprensa nacional, obteve o apoio de Jarbas Vasconcellos, senador e ex-governador de Pernambuco, que tem posição clara contra o governo de Lula e do governador Roberto Requião, no caso hospedeiro que não se declara contra o governo. A intenção de Quércia era uma reunião mais ampla. Realizaria em Brasília um encontro do Conselho Político do PMDB, o que colocaria numa ampla discussão governadores, ex-governadores, presidentes de diretórios regionais e dirigentes nacionais da agremiação de Ulysses Guimarães.

Embora qualquer reunião do porte da anunciada seja politicamente importante, informa-se que esta esconde objetivos maiores: a discussão do descolamento do PMDB do governo e o rompimento, mesmo que paulatino, com Lula. No entender dos organizadores do encontro, a hora é oportuna, pois é preciso organizar as eleições municipais do ano que vem e estas formarão a base para a corrida presidencial em 2010.

Teria havido uma ampla negociação com o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, para que este aderisse ao movimento, mas sem sucesso. Ele entende que o assunto é extemporâneo e, para o governo, a pior hora. Estão em pauta temas como a prorrogação da CPMF, a cassação ou não de Renan Calheiros e a reforma tributária, com proposta aguardada para o fim deste mês. E, embora demore, o presidente Lula tem atendido aos pleitos peemedebistas por cargos. Aliás, há quem insinue que por detrás do movimento liderado por Quércia também estaria uma reivindicação dessa natureza. O PMDB paulista quer o comando da companhia de entrepostos e armazéns gerais de São Paulo, do organograma do Ministério da Agricultura. A empresa está sendo comandada pelo PT. Temer, em nome do PMDB, já reivindicou o cargo, mas Lula vem fazendo corpo mole.

Nem Temer nem o próprio Requião parecem acreditar que Quércia tenha força suficiente para conseguir o rompimento com o governo de Lula. Mas nem por isso o encontro de Curitiba deixa de ter importância, pois as eleições municipais de 2008 são um fato que não pode ser ignorado. Também não se pode ignorar que o PMDB quer ter, como candidato à sucessão de Lula, um nome dos seus quadros. E o presidente do PT, Ricardo Berzoini, acaba de declarar que o seu partido terá candidato à sucessão de Lula. O presidente Lula, por sua vez, tem se equilibrado no muro, às vezes estimulando os movimentos por uma sucessão petista, às vezes admitindo que poderá sair um nome do aliado e maior partido da coligação situacionista, o PMDB.

É quase certo que do encontro não sairá nenhum rompimento. Pode ser até que o PMDB arranque de Lula mais alguns cargos, inclusive o pleiteado por Quércia para o PMDB paulista. Mas examinando a precariedade do condomínio que forma a aliança de apoio ao atual governo, o peso do PMDB na coligação, a dependência de Lula no Congresso das decisões peemedebistas e o comportamento do partido de Ulysses, que nada vota e aprova sem cobrar, não é de se desprezar a notícia de que por trás da reunião há um movimento, ainda que tênue, pelo rompimento.

No ano que vem, quando ocorrerem as campanhas e eleições municipais, é que se esboçará o quadro sucessório presidencial, pois a disputa municipal formará a grade que poderá dar ao PT uma estrutura mais sólida para insistir na sucessão de Lula com um nome de seus quadros. Ou provará ao Partido dos Trabalhadores e ao atual governo que lhe falta gás para fazer sucessor com um nome petista, lutando contra as ambições do PMDB. A menos que Lula, imitando Hugo Chávez, queira um terceiro mandato.

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