O probleminha do gás

O presidente Lula disse que ?é preciso acreditar que não vai ter crise energética?. Melhor que não fosse apenas uma questão de fé, mas de fatos, a nação certa de que teremos energia garantida por um tempo bastante largo. O suficiente para que providências sejam tomadas para alongar o fornecimento. Construindo usinas, por exemplo. Mas o presidente minimiza o problema dizendo: ?Aconteceu um probleminha de gás no Rio de Janeiro e acabou a energia do mundo? Não. Não acabou. Este País tem energia garantida até 2012?. E acrescentou: ?Vamos achar e comprar o gás que precisar?.

Na oportunidade, saiu-se com críticas contra as políticas da Petrobras, com a conhecida ladainha de que é uma empresa na qual o governo é acionista majoritário. Portanto, tem de tomar decisões de acordo com o governo. Nenhuma referência ao fato de a empresa ter acionistas privados, cujos interesses devem ser também respeitados. Excesso de otimismo ou fé daquelas que removem montanhas. O probleminha a que se referiu o presidente foi a redução no fornecimento de gás natural a distribuidoras do Rio e de São Paulo. E, em conseqüência, cortes no abastecimento de grandes indústrias e postos de abastecimento de gás para veículos das duas maiores cidades do País. O restabelecimento do abastecimento foi feito graças à concessão de uma liminar judicial, o que é uma ordem, mas não uma garantia de fornecimento, já que a Justiça não produz gás.

O probleminha também fez com que o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, fosse às pressas à Bolívia encontrar-se com Carlos Villegas, ministro de Hidrocarbonetos do governo Evo Morales. Um encontro à procura de mais gás e acordos que reduzam os desentendimentos que levaram as tropas do exército daquele país a cercar e seu governo a apossar-se de refinarias brasileiras. E tomar a si o poder de fixar unilateralmente o preço do gás boliviano do qual somos o maior consumidor. E para cuja produção fomos os maiores investidores.

Lula já informou que no dia 12 do mês que vem estará em La Paz para discutir o tema gás, sua produção e comercialização e também novos investimentos do Brasil no país vizinho. Como lá fomos tratados como contrabandistas e de lá escorraçados, se é um probleminha, a verdade é que para solucioná-lo estamos prontos a engolir muitos sapos.

O probleminha, assim minimizado no discurso de Lula, levou o ministro interino de Minas e Energia do Brasil, Nelson Hubner, a desaconselhar novas conversões de carros para o uso do GNV. E a condenar os estados que deram incentivos aos motoristas de táxi para que transformassem seus motores de forma a que pudessem utilizar gás. Foram incentivos fiscais que ainda vigem no Rio e em São Paulo. Mas a frota a gás também foi incentivada pelo preço do combustível alternativo à gasolina, óleo diesel e mesmo ao álcool.

Só que agora o preço do GNV pode subir entre 15% e 25% nos próximos dois anos, informação dada pela assessoria de imprensa da Petrobras. As indústrias que usam o gás estão em papos-de-aranha talvez porque não tenham tanta fé no abastecimento quanto Lula; também porque não devem optar por um combustível mais raro e mais caro e quem sabe porque a promessa de que não haverá apagão neste País até 2012, como garante o presidente, é apontar para um horizonte demasiado próximo em se tratando de grandes investimentos do setor secundário da economia.

O gás que está faltando foi desviado para usinas, já que falta água para manter as hidrelétricas a todo vapor. Culpa de São Pedro. Assim, somos obrigados a produzir energia elétrica mais cara e com combustível poluente. Feliz e coincidentemente anuncia-se a descoberta de um grande campo de petróleo na bacia de Santos, de onde também deverá sair gás. Quando e quanto produzirá, ninguém ainda sabe. Por enquanto, contamos apenas com a fé sem limites de Lula e seu papo que há quem não considere muito ?cabeça?.

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