O PMDB precisa de um projeto para o Brasil

O resultado das eleições municipais de 2004 traz embutido algumas lições importantes para a democracia brasileira, em especial para os partidos políticos que se propõem a interpretar e representar as legítimas aspirações da nossa sociedade. Nascido da luta pelo restabelecimento das liberdades democráticas e do Estado de Direito, o PMDB vem sofrendo nos últimos anos um processo de acentuada e grave perda de identidade, que ameaça transformar o partido – de uma força política matriz -em legenda acessória e coadjuvante.

Apesar de ter saído das urnas com o maior número de prefeitos e vereadores, o PMDB parece ter se tornado um partido com uma silhueta corpulenta e pesada, mas sem rosto. Basta verificar que mesmo tendo sido vitoriosos na maioria dos municípios, o partido tenha ficado cada vez mais afastado do poder nos grandes centros urbanos. E mesmo continuando sendo um dos maiores, se não o maior partido do Brasil, ninguém sabe qual é a proposta, o projeto, o programa do PMDB para o País.

A falta de rumo tem feito dele um verdadeiro “dragão sem cabeça”, que se debate em seu gigantismo entre decisões equivocadas e a ausência de um projeto político próprio. A prova dessa situação é que a própria direção nacional do PMDB, através de seu presidente deputado Michel Temer, oportunamente programou para os próximos dias uma série de reuniões com as principais lideranças do partido, na tentativa de definir para onde queremos ir. Mas é de fundamental importância que esse movimento não seja mais uma vez abafado pelo oportunismo e pelo fisiologismo, pois do contrário, o PMDB e seus filiados continuarão não indo a lugar nenhum, e poderão pagar um alto preço por essa indecisão no futuro.

Nascido de uma visão revolucionária, o PMDB historicamente agregou as mais diferentes correntes políticas e ideológicas do País, da extrema direita à extrema esquerda. Após o fim dos governos militares, porém, esse pluralismo colaborou para uma falta de direção, agravada pelo fisiologismo lamentavelmente prática disseminada na política e na maioria dos partidos brasileiros.

Não há dúvida, e as urnas mostraram isso, de que o PMDB continua sendo o partido com a maior capilaridade e organicidade em nossa sociedade. Entretanto, falta um programa, uma vontade política de definir qual o País de queremos e qual a proposta que oferecemos aos brasileiros. Como sempre digo em minha atividade parlamentar, falta a encomenda. E sem um projeto de poder e de País, partido algum tem futuro. Um partido da grandeza do PMDB tem a obrigação de ter um projeto de poder ou ficará a reboque dos projetos políticos dos outros.

É preciso, por exemplo, reavaliar a postura do PMDB em relação ao governo do PT, depois de quase dois anos em que o partido deu seu apoio em nome da governabilidade. Lamentavelmente e o resultado das urnas confirmam que o eleitor tem a consciência disso os resultados exibidos pelo atual governo são pífios no que se refere ao enfrentamento dos chamados “nós górdios” que atravancam a retomada do crescimento econômico e do desenvolvimento social da Nação. É preciso descobrir se o governo do PT vai saber entender e ouvir o recado das urnas, mudando sua conduta, melhorando seu gerenciamento e sua eficácia, pois do contrário, se continuar assim, vai perder as eleições de 2006, e quem estiver junto com ele, vai pelo mesmo caminho. E é aí que o PMDB precisa decidir se é bom ou não para o partido continuar atrelado ao projeto político do PT, ou se pretende formular seu próprio projeto de País.

Por isso, considero extremamente oportuno o levantamento deste debate interno no PMDB. Mas é preciso que essa autocrítica seja para valer, e não da boca para fora, apenas como instrumento de pressão sobre o atual governo para renegociar espaço, posições ou cargos, como infelizmente vimos em tempos não muito distantes. Para o bem do PMDB e da democracia brasileira que não pode prescindir da história e da força popular do partido espero sinceramente que essa movimentação não seja apenas mais um muro das lamentações de setores que não tiveram seus interesses atendidos por aqueles que hoje ocupam do poder central. Mas sim que seja uma oportunidade efetiva da apresentação de propostas e da formulação de um projeto que recupere ao PMDB a capacidade de ser novamente protagonista de nossa história política e social.

Max Rosenmann

é deputado federal pelo PMDB/PR

Voltar ao topo