O governo e os preços

José Dirceu, tido como uma espécie de primeiro-ministro do governo Lula, oficialmente ministro-chefe da Casa Civil, agora com funções de gerenciar toda a máquina federal, fez uma advertência: “Nós não podemos aceitar e não pode acontecer – o ministro Palocci já disse isso – remarcação de preços. Não pode começar a haver uma corrida para aumentar os lucros com uma visão de curto prazo”. A seguir, disse que o Brasil precisa é de investimentos externos e aumento da demanda para proporcionar empregos e renda.

Na Suíça, Lula havia repetido a mesma receita, dizendo que os quase US$ 11 bilhões que entraram no Brasil para investimentos diretos, no ano passado, precisam aumentar.

Para o mercado, a advertência soou estranha. Como irá o governo impedir aumentos de preços? E por que imagina que eles subirão especulativamente? O Brasil adotou uma economia de mercado, verdade que cada vez mais com interferência do governo como regulador e competidor. Aliás, a maioria dos aumentos de preços tem ocorrido nos serviços públicos.

O governo não tem poderes para impedir as altas, se elas vierem a ocorrer. E o ambiente não parece propício para que ocorram, pois como o próprio governo começa a admitir, o povo não tem poder aquisitivo, não tem dinheiro e as empresas precisam ser o mais competitivas possível, para tentar vender o suficiente para manter as portas abertas. Muitas delas reduzem a jornada de trabalho, fecham para férias coletivas, demitem funcionários e usam de outros expedientes de conseqüências dolorosas, para continuar no mercado. Um caso ou outro de loucura especulativa não indica que a especulação seja a política empresarial do momento. Nem os superpoderes de José Dirceu sugerem que, como uma espécie de primeiro-ministro, possa impedir remarcações, sejam para mais ou para menos. A menos que se deseje abandonar a política de livre mercado, o que parece não deve acontecer. Senão, não estaria o presidente Lula clamando por mais investimentos externos e apelando para os nossos empresários para que sejam agressivos nas vendas.

Há no momento, e cada vez mais, um erro de estratégia do governo brasileiro. Quando ele suspende o rumo descendente da taxa básica de juros (Selic) e justifica essa atitude, por escrito, falando na possibilidade de volta da inflação, abala a confiança do mercado. Quando de uma reforma ministerial cirúrgica faz uma transformação total no governo, coloca o mercado com as barbas de molho. Em time que está ganhando, não se mexe.

A conseqüência foi imediata: aumento do dólar, do risco-País e queda na bolsa.

A estratégia ideal é a manutenção de regras claras e não mudanças, desconfianças, advertências e lamentos. E, se possível, sempre dourar a pílula. Se não for verdade dizer que este ou aquele ponto da nossa economia vai muito bem, obrigado, pelo menos será uma mentira piedosa. Diz-se, agora, depois da advertência de José Dirceu ao mercado, que Lula pretende enquadrá-lo. Ele estaria “atropelando” ministros, extrapolando a ordem para apenas gerenciar o governo. Da Europa, Lula teria transmitido ao Palácio do Planalto sua contrariedade. Seu aliado e o mais forte de seus ministros estaria dando passos maiores do que as pernas, transformando os demais ministros em simples gerentes. E ele próprio, em primeiro-ministro ou presidente do Brasil, enquanto Lula, em suas muitas viagens, procura ajudar a governar o mundo.

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