O espanto chinês

O avanço chinês sobre economias emergentes é fato consumado e, a essa altura, apesar do espanto dos analistas, não chegou a ser uma novidade inesperada a revelação do déficit da balança comercial brasileira com o referido país, acumulado em US$ 1,5 bilhão nos últimos 12 meses.

Entretanto, o dado a considerar foi o gigantesco salto de 128% em relação ao saldo negativo de US$ 678,2 milhões, referente ao período de outubro de 2006 a outubro passado. Mesmo que o déficit da balança comercial com a China fosse aguardado, os economistas se mostraram apreensivos com o ritmo alucinante dos números atuais.

O embarque de commodities brasileiras para o mercado chinês foi crescente ao longo do ano e, de maneira direta, contribuiu para amenizar o peso das importações de manufaturados oriundos do outro lado do planeta. Em novembro, porém, ocorreu uma completa inversão e o saldo a favor da China atingiu escala nunca dantes observada, segundo fontes da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Esta será a primeira vez desde o início da década que o Brasil vai fechar o ano em desvantagem comercial com a China, muito embora o tamanho da diferença não fizesse parte das análises mais modestas quanto ao desempenho brasileiro. O buraco dos últimos 12 meses é resultante da diferença entre US$ 10,66 bilhões de mercadorias importadas da China e US$ 10,01 bilhões das exportações brasileiras.

Todo o esforço feito para equilibrar a balança comercial com a China, tendo em vista que o preço das commodities se manteve elevado durante quase todo o ano, perdendo fôlego somente nas últimas semanas, foi pulverizado no mês de novembro, quando as compras brasileiras de produtos chineses registraram o impulso de 128% em relação aos valores de outubro.

O empecilho apontado pelos analistas é que, no curto prazo, o Brasil não terá condições de reverter o quadro pela impossibilidade de aumentar a oferta de bens de maior valor agregado na pauta de exportações. Além disso, nesse momento ocorre um fenômeno curioso: enquanto o câmbio chinês favorece as exportações e inibe as importações, no Brasil acontece o contrário.

A tendência esboçada há meses chega a um ponto inesperado no final do ano, e o vaticínio dos especialistas é que ela deverá se expandir nos próximos exercícios, chegando a extremos ainda mais preocupantes. O tratamento preventivo, segundo os exportadores, estaria na mudança radical da estratégia comercial do governo e no anúncio imediato da política industrial.

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