O ensino da dança clássica no Brasil

Para quem costuma não acreditar nas habilidades nacionais, sinto decepcionar os pessimistas, mas realmente o ensino da dança clássica no Brasil é muito bom. Tanto que há alguns anos exportamos bons bailarinos para diversos locais do mundo. A bailarina Roberta Marques, por exemplo, está indo para o Royal Ballet de Londres seguindo a mesma trajetória no exterior, de nomes como Maria Angélica, Ivone Meyer e Beatriz Consuelo. Já Ana Botafogo e Cecília Kerche são alguns dos bons exemplos que optaram em ficar no Brasil.

Além da boa técnica, nossos bailarinos têm uma maneira muito especial de dançar, o que para muitos pode ser considerado até como uma técnica brasileira.

A formação no Brasil é uma mistura inteligente de diferentes escolas de dança: a russa, a francesa, a italiana, a norte-americana e a inglesa. Minha geração, por exemplo, formou-se pela técnica russa, trazida ao Brasil por Maria Olenewa, bailarina da Cia. Anna Pavlova.

O encontro da cultura brasileira com essas escolas resultou em uniões felizes tendo como herança a garra e amor (da escola russa), o charme e alegria (da francesa), a vontade e o temperamento (da italiana), a agilidade e praticidade (da norte-americana) e a clareza e elegância (da inglesa). De todas essas misturas, o resultado foi a formação de bailarinos com uma maneira diferente de dançar o clássico, o moderno e o contemporâneo. Um estilo próprio que os europeus e americanos tanto apreciam.

Mas, apesar da quantidade de bailarinos talentosos, ainda temos poucas companhias de dança clássica no País. Por isso, um evento como o Festival de Dança de Joinville é fundamental para jovens bailarinos. É um estímulo para amadores e profissionais que, apesar das dificuldades financeiras e de espaço para trabalho, não desistem da dança clássica. O festival também tem sua contribuição inquestionável no aperfeiçoamento técnico de bailarinos através dos cursos, oficinas e troca de informações.

Vale lembrar que o festival joinvilense abriu horizontes para professores, coreógrafos, figurinistas e todo o elenco de profissionais que se integram na apresentação de um espetáculo, independe do estilo escolhido. Mais do que ser o primeiro grande evento de dança do Brasil, o Festival de Joinville contribui há 22 anos para um novo panorama da dança brasileira.

Além de despertar o interesse do público pelos espetáculos de dança, o festival promove a cada ano o encontro de profissionais de várias áreas envolvidas com a dança, estimula a troca de informações e oportuniza a apresentação de trabalhos de diversas regiões do país e também do exterior. Quem vem a Joinville sempre tem a oportunidade de aprender e crescer. Não é à toa que Joinville é considerada a locomotiva dos festivais.

Ady Addor

– membro do Conselho Consultivo do Festival de Dança de Joinville

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