O dinheiro dos pobres

O presidente Lula não festejou os resultados das eleições municipais. Publicamente, nem lamentou, embora seja certo que algumas derrotas, especialmente em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, desagradaram ao presidente. Sem falar sobre os resultados do pleito, Lula disse que os recém-eleitos terão que ajudar o governo federal no acompanhamento do programa Bolsa Família.

“Os prefeitos tomam posse dia 1.º de janeiro e vão ter que ajudar o governo federal no cadastramento, no acompanhamento, se as crianças estão indo pra escola, se a mãe está levando as crianças pra tomar a vacina”, disse o presidente no programa de rádio “Café com o presidente”.

O programa Bolsa Família vem sendo criticado por limitar-se a atender poucas das milhões de famílias necessitadas e que a ele têm direito. Lula considera que vai bem, pois já estaria atendendo a 5,3 milhões de famílias e tem a meta de, no ano que vem, chegar a 8,7 milhões.

Recentemente, uma emissora de televisão de porte nacional, num de seus mais importantes programas, denunciou, com provas, o mau uso do dinheiro do Bolsa Família. Famílias que a ele não têm direito, recebem. Outras que têm direito não recebem nem foram aceitos seus cadastramentos. E outras mais, efetivamente credoras, tiveram seu credenciamento engavetado pela Caixa Econômica Federal. Há ainda casos escandalosos de terceiros recebendo em nome dos carentes. E estes sequer sabem que estão sendo prejudicados por malandros, que de alguma forma melhor transitam nas repartições que concedem o benefício.

Para Lula, “a imprensa nos ajuda fazendo denúncia, mostrando erros. Para nós é importante”. E acrescentou: “Com base nessas reportagens, a gente monta um esquema de fiscalização, a gente cobra do prefeito, a gente cria o conselho gestor, a Controladoria Geral da União pode ajudar a fiscalizar, o Ministério Público pode ajudar a fiscalizar”.

Num fatídico “ranking” mundial montado por entidade acima de quaisquer suspeitas, foi revelado que o Brasil, que já ocupava um lugar de destaque entre os países mais corruptos, havia piorado de situação. Ficou mais corrupto ainda. Usamos este espaço para tratar do assunto, admitindo que a corrupção é um mal comum a todos os países, mas em alguns é muito pequena, enquanto que, entre nós, faz o PIB minguar e os recursos para o desenvolvimento deixarem de ir para a produção e se dirigirem, às escondidas, para os bolsos dos malandros.

Na oportunidade, indicamos a montagem de uma burocracia enxuta e eficiente para o controle dos dinheiros públicos. E um sistema punitivo exemplar, quando pegos os vigaristas. Está aí uma oportunidade para montar esse sistema fiscalizatório eficiente e capaz de reduzir a corrupção. E reduzi-la no Bolsa Família, a versão prática do Fome Zero, bandeira primeira do governo Lula que não tardou a ficar a meio-pau, sem o brilho que lhe prometiam e os resultados que dela eram esperados.

Parece-nos que a fiscalização aventada por Lula, em boa porém tardia hora, deve ser encimada pelo prefeito ou, melhor ainda, pelo representante do Ministério Público. Isto porque há prefeitos que estão por detrás dos desvios do Bolsa Família, pois o usaram para beneficiar cabos eleitorais, funcionários públicos e até parentes. O novo prefeito deve ajudar a fiscalizar, mas desta vez se há de montar um esquema exemplar. Que rapidamente evidencie os desvios, identifique seus autores e os puna com rigor. Roubar dinheiro de pobre é crime grave.

Voltar ao topo