O dinheiro da globalização

Muito se critica a globalização. A maioria dos críticos nem sabe de que se trata nem tem competência ou visão para distinguir, nesse processo, o que é bom e o que deve, se possível, ser evitado. Seria exagero dizer que o atentado das torres gêmeas e contra o Pentágono, nos Estados Unidos, inserido na “globalização”, teve inescapáveis efeitos no Brasil.

Aqui, chegou até ao troco merecido, de a nossa polícia federal mandar os gringos sujarem os dedos imprimindo digitais e tirarem fotos numeradas, como criminosos. Isso, até que um comandante idiota de aviação bancou o engraçadinho e mofou das nossas autoridades, sendo preso, pagando fiança ou indenização e, em seguida, sendo mandado de volta para os Estados Unidos.

Mas outros efeitos teve esse lamentável episódio de terrorismo, pois influiu diretamente nas relações entre o governo Bush e outros países e na economia norte-americana, hoje tentando sair da estagnação.

A perspectiva para 2004 é que o Brasil, dentro do inevitável processo de globalização, receba algo em torno de US$ 11 bilhões em capital produtivo, o que bancos internacionais acham uma euforia exagerada. Precisamos desse dinheiro e a estimativa é do Instituto de Finanças Internacionais – IFF, entidade que reúne os 340 maiores bancos e instituições financeiras do mundo. Mas, no entender de William Rhodes, vice-presidente do IFF e do Citigroup, “há um risco hoje de que os mercados talvez estejam indo longe demais em relação aos fundamentos econômicos dos emergentes”. Somos um deles.

Acontece que as coisas podem mudar lá fora e, conseqüentemente, mudarão as relações econômico-financeiras com os países emergentes, inclusive com o Brasil. Um exemplo é se os EUA, que hoje praticam uma taxa básica interna de juros de apenas 1% ao ano, interrompam essa política por uma reversão de expectativa de crescimento de sua própria economia. Isso influiria nas suas decisões de investimentos no exterior e nós poderíamos ficar a ver navios. Ou, no mínimo, vendo os US$ 11 bilhões minguarem ou se dirigirem a outras plagas.

Hipóteses não faltam e uma delas é o Brasil não responder convenientemente, em termos de segurança ou rentabilidade, ao que dele esperam com um pé na frente e outro atrás, os países investidores, desenvolvidos. Hipótese também possível é outros países emergentes nos passarem a perna, mostrando-se mais receptivos aos investimentos estrangeiros e oferecendo mais segurança e vantagens que o Brasil sob Lula.

Usando uma imagem que admitimos grosseira, ou melhor, uma piada que pode ser considerada de mau gosto, porém elucidativa, podemos dizer que os capitais são como o tesão. Não desaparecem. Apenas emigram. O dinheiro que não recebemos ou que não sabemos ou não podemos captar e segurar, pode ir para o cafundó-do-judas, onde exista um país que seja ou pareça ser mais atraente. Disputando investimentos estão todos os países emergentes e ainda os subdesenvolvidos e até os desenvolvidos. O dinheiro, neste mundo global, não tem pátria.

Os US$ 11 bilhões previstos, de qualquer forma, não são lá muito dinheiro. Eles significam um crescimento de 3,7% nos ingressos em nosso país, pouco mais do que se prevê para a América Latina, que é de 3,4%. E estão muito abaixo do que necessitamos, pois somos um país imenso, de enormes problemas, vasto desemprego e constrangedora miséria. E não temos poupança interna suficiente. Somos pobres e não podemos ser xenófobos em matéria de capitais.

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