O dilema do PT

No PT há uma espécie de culto à personalidade de Lula, que vem servindo de escudo para alguns de seus principais auxiliares, principalmente o ministro Antônio Palocci Filho com sua política econômica. Lula endossa publicamente Palocci e as suas diretrizes, enquanto petistas e a maior parte das bases de apoio a engolem sem gostar porque, neste governo, há a permanente preocupação de que qualquer crítica não atinja o presidente. E qualquer elogio lhe seja creditado, aproveitando a sua imagem ainda satisfatória para as massas que nele votaram. A reforma da Previdência, por exemplo, provocou e provoca uma grande polêmica no PT. Mais difíceis serão, ainda, os debates sobre a política econômica do governo executadas por Palocci.

O Ibope fez uma pesquisa entre os petistas e ficou claro que os correligionários de Lula não aprovam a política econômica, que consideram do ministro da Fazenda, e não do presidente. Nada menos do que 34% dos entrevistados discordaram in totum e 17% discordaram parcialmente. O que contestam os petistas? Eles discordam da política de juros altos; do ajuste fiscal duríssimo, que faz os superávits para pagar juros das dívidas do Brasil baterem recordes, enquanto há estagnação econômica, senão recessão e desemprego crescente; discordam do retardamento dos chamados programas sociais por falta de recursos, que estão sendo economizados e usados para pagar juros.

Mas há um contingente expressivo de petistas que diz compreender a necessidade de adoção da atual política econômica. 27% dos consultados concordam em parte e 18% concordam totalmente. Outros dados interessantes coletados são que a maioria dos correligionários do presidente concorda com a autonomia do Banco Central, tese que sempre foi combatida pelo PT. E são contra o ingresso do Brasil na Alca. A CPMF, que o PT, enquanto na oposição, combatia e, agora, no governo, quer transformar em definitiva, e nega-se a repartir com estados e municípios, tem forte oposição no PT. Nada menos de 50% dos petistas discordam da referida contribuição que vai virar imposto. E desses, 42% discordam totalmente.

Quanto à reforma da Previdência, a pesquisa revela que a maioria dos petistas apoiava a proposta inicial de Lula, considerada contrária aos interesses do funcionalismo. Daí porque o presidente bateu pé firme em sua posição inicial, só cedendo para facilitar a sua aprovação na Câmara e diante das fortes reações do Poder Judiciário. Quanto às alianças feitas pelo PT para poder eleger Lula e manter a governabilidade, a maior parte da militância a aprova, mesmo sabendo que se trata de um casamento da esquerda com os grupos de centro-direita. Lula, ele próprio, como presidente, só corre o risco de ser contaminado pelo desprestígio de sua política econômica quando a população descobrir que Palocci só a executa porque tem o aval presidencial. E se o presidente insistir num ajuste fiscal mais severo do que o do governo FHC, dando continuidade à recessão e ao desemprego. Mas essa é uma hipótese pouco provável, pois seria um suicídio político.

Corre o presidente, entretanto, o risco de ver engrossar o contingente de oposicionistas à política econômica de seu governo com o acréscimo das opiniões contrárias dos partidos e grupos aliados, inclusive e principalmente do vice-presidente, José Alencar, e do seu partido, o PL.

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