O desafio de escoar a produção

A péssima situação das estradas brasileiras voltou ao noticiário recentemente com a divulgação do estudo anual da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Os dados são desanimadores pois, de acordo com o relatório, 74,7% dos 74.681 quilômetros pesquisados estão deficientes, ruins ou péssimos.

Além dos perigos e do desconforto para toda a população, já que 96,6% dos passageiros são transportados pelas estradas, o sucateamento da malha viária tem um péssimo efeito em toda a economia: fretes mais caros, dificuldade no escoamento da safra e perda de divisas. É o chamado custo Brasil que, de acordo com o relatório da CNT, aumenta em 30% por causa dos problemas de escoamento.

O estudo chega em um bom momento do agribusiness brasileiro. A produção de grãos da safra 2003/2004 girou em torno de 120 milhões de toneladas. Em junho, o agronegócio foi responsável por 47,2% das exportações brasileiras. Apenas no primeiro semestre deste ano as exportações do setor já somaram R$ 55,5 bilhões. Até o fim do ano, a estimativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio cresça na ordem de 3,25%.

Esses números são ainda modestos diante do potencial do campo nos próximos anos. As fronteiras agrícolas se expandem cada vez mais, a agricultura se moderniza e o Brasil das metrópoles volta seus olhos para a pujança do interior.

Porém, nada disso vai adiantar enquanto não forem resolvidos os grandes gargalos para o escoamento da nossa produção. O que sobra de otimismo em relação à produtividade, falta em relação à logística de transporte para escoarmos a nossa safra. Estradas ruins, ferrovias sucateadas, poucos portos e hidrovias subutilizadas.

Não basta tapar os buracos das estradas para tentar resolver o problema. Se quisermos realmente tornar o Brasil a maior nação agrícola do mundo, temos de desenvolver um modelo de logística de transporte de longo prazo, para eliminar as grandes dificuldades enfrentadas pelos produtores.

A falta de logística adequada aborta qualquer pretensão de desenvolvimento pleno de um setor que responde por quase metade das exportações de todo o País. É como dar um passo para a frente e dois para trás. Há produção, mas não temos como escoá-la de forma eficiente.

A precária situação do transporte no Brasil se agrega aos chamados “custos escondidos” da produção agrícola que incluem fatores como o alto preço dos insumos, a alta taxa de juros e a carga tributária. É possível imaginar o quanto esse custo seria reduzido se houvesse uma malha ferroviária ligando o norte e o centro-oeste brasileiro aos portos de exportação? Se existisse um canal de interligação eficiente das regiões produtoras com o Nordeste, facilitando o escoamento da produção ao mercado exterior? Se as rodovias não estivessem em estado de penúria?

O governo federal emitiu sinais positivos ao anunciar investimentos de R$ 1,1 bilhão para ampliar a ferrovia Norte-Sul e recuperar a BR-153, a Belém-Brasília. A proposta é que em dois anos as regiões produtoras do Centro-Oeste tenham um canal de escoamento rápido para o porto de Itaqui, no Maranhão, um excelente caminho para as exportações brasileiras.

Projetos como esses tem de sair do papel, seja com investimentos públicos ou parcerias com a iniciativa privada. Quando uma estrada é recuperada ou uma ferrovia é revitalizada, não estamos falando em despesas. Estamos falando de investimento.

Presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

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