O chamamento do pastor

Há muito não se via repto tão cabal e apropriado quanto a recriminação pública feita por dom Geraldo Majella Agnelo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), religioso de autoridade moral ilibada, a propósito da mazurca recém-iniciada pela banda formada por bajuladores ligados ao Partido dos Trabalhadores, a fim de promover a anistia política do ex-ministro e ex-deputado federal José Dirceu.

Soou em momento oportuno a palavra consciente do pastor, felizmente, a tempo de evitar que o movimento em prol da recuperação dos direitos do indigitado político assuma a apelativa nuança de reparação de injustiça assacada contra um cidadão acima de qualquer suspeita.

Não se pode esquecer o comando tácito de José Dirceu sobre o grupo que enxovalhou a nação com a prática do mensalão e, tampouco, a conclusão do procurador Antônio Fernando Souza, que apontou na pessoa do ex-chefe da Casa Civil o principal artífice da ?quadrilha? constituída por alguns dos mais destacados dirigentes nacionais do petismo.

Dom Geraldo afirmou que não há o menor sentido em reclamar a concessão de anistia a um indiciado por prática de delitos abertos aos princípios democráticos, sem que antes se conheça o pronunciamento rigoroso da Justiça. Além do precedente de escancarar a porteira para providências similares dos demais cassados pelo escândalo do valerioduto, ao trabalho da CPMI dos Correios e à denúncia mesma oferecida pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, poder-se-ia pespegar o rótulo da leviandade e, sem mais delongas, destiná-los à lata do lixo.

Ainda bem que existem vozes na vida institucional do País prontas a clamar pelo cumprimento das leis, como é o caso da CNBB, alertando a comunidade para agir em bloco e extirpar no nascedouro o caviloso ardil, cujo fim é assoalhar o regresso à política de um personagem que, decerto, hipnotizado pelo papel de primeira grandeza na cruzada que conduziu Lula à Presidência da República, deixou-se picar pela mosca azul, mas acabou abatido em pleno vôo.

A fala de dom Geraldo é um chamamento corajoso à resistência pacífica e ordeira, mas inquebrantável, frente a arrogância perniciosa de um grupo político que se pretende acima das leis e dos costumes. Fora!

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