O caso Arafat

O medo, tanto quanto o ódio, são maus conselheiros e podem levar a insanidades nunca imaginadas homens reconhecidamente inteligentes. Um bom exemplo foi a loucura nazista que envolveu, numa coletiva ação de maldade, com brutalidades indescritíveis, uma nação plena de grandes valores morais e intelectuais como a Alemanha. O medo parece que está levando homens como um Ariel Sharon, primeiro-ministro de Israel, à estupidez, se não do mesmo nível, pelo menos muito semelhante, quando chega a vingar-se de atentados de palestinos destruindo suas casas e, com elas, suas famílias. E agora alcança o ápice, ao falar em expulsão do líder palestino Yasser Arafat, um homem tão respeitável e respeitado que chegou a merecer o Prêmio Nobel da Paz.

Ignorar a efetiva liderança de Arafat sobre seu povo e seu sincero desejo de paz, é cegueira. Cegueira também é não compreender as dificuldades que atravessa, liderando um povo que perdeu seu território e a organização que lhe daria os contornos de nação politicamente organizada. O principal traço de união dos palestinos, como aliás dos diversos povos que os apóiam, inclusive através de movimentos terroristas, é a religião. E o traço político, o desejo de dar ao povo palestino um território que tiveram e perderam quando criado o Estado de Israel.

Isso não faz com que a criação de Israel, patrocinada pela ONU, sob a presidência honrosa de um brasileiro (Oswaldo Aranha), não tenha sido justa e um passo necessário. Faltou, entretanto, prever como atender às inevitáveis reivindicações territoriais dos palestinos. Os povos sem pátria, quando com traços culturais e religiosos comuns, como os palestinos ou os curdos, lutarão até a morte pelo que consideram seu direito inalienável de ter uma pátria, mesmo que para isso tenham de chegar à insensatez do terrorismo, como tem acontecido. Imaginar que essa estúpida violência se dá porque há liderança de Arafat, homem voltado para a negociação e a paz, respeitado em todo o mundo e por ele reconhecido como o principal líder de seu povo, é cegueira, que só pode ser ditada pelo medo ou pelo ódio.

Israel, como país, é uma vitória muito cara à humanidade. Mas a busca de justiça para os palestinos também o é e ambos esses povos têm causas justas, embora por enquanto em oposição. A expulsão de Yasser Arafat, proposta por Ariel Sharon, só poderá acirrar os ânimos e tornar impossíveis os ainda remotos sonhos de paz naquela região do Oriente Médio. Faz-se necessário dar um território fixo para os palestinos e o reconhecimento, por estes e pelos demais povos árabes, de Israel, mesmo que o problema das fronteiras, de difícil equação, fique para depois.

O que não se pode admitir é que se repitam barbaridades como as que ocorreram durante a II Guerra Mundial, então em razão do ódio, e, agora, por causa do medo.

A expulsão de Arafat é uma proposta tão absurda que a rejeitam até mesmo os líderes de países que apóiam a causa israelense. O comportamento de Sharon chega a parecer semelhante ao dos insanos inimigos dos judeus, os nazistas, sob Hitler.

Os problemas entre Israel e os palestinos devem ter, como foro para sua discussão e solução, a ONU. Foi lá que se criou Israel e é contra diversas de suas resoluções que se insurgem os israelitas, permanecendo em territórios que invadiram nas sucessivas guerras contra os árabes.

Esta não é, obviamente, uma missão fácil. Mas a expulsão de Arafat a tornará absolutamente impossível.

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