O blecaute americano

Os Estados Unidos e parte do Canadá, no Noroeste do continente, uma das regiões mais ricas, se não a mais rica do mundo, densamente povoada, viram-se, de repente, sob terrível blecaute. Um novo atentado, como o de 11 de setembro? Foi a primeira coisa que pensaram os nova-iorquinos, suas autoridades e as autoridades máximas norte-americanas, inclusive o presidente George W. Bush. Foi um caos, embora com certa vaidade os meios de comunicação e os governantes estadunidenses divulgassem que houve clima de tranqüilidade. Calma, enquanto milhares de pessoas ficaram presas em elevadores; milhares detidas nos metrôs e milhões sem condições de ir para casa, quando a tarde vinha caindo e o escuro da noite agravando o clima de insegurança que o blecaute causou.

Movimentaram-se todos os meios de segurança norte-americanos, desde o FBI, a CIA, bombeiros, policiais e outros que agem desde o atentado de 11 de setembro, pois o boicote feito por terroristas não está afastado, embora negado peremptoriamente, já que inexistem provas de sua realização. E negá-lo ajuda a tranqüilizar ou assustar menos as vítimas do apagão, que ainda não esqueceram o terrível ataque da Al-Qaeda, destruindo as torres gêmeas de Nova York, parte do Pentágono e ceifando milhares de vidas. De qualquer forma, parte dos Estados Unidos esteve no escuro e, de lambuja, o Canadá foi atingido.

Mas um blecaute pior está acontecendo. Politicamente, no concerto das nações, os Estados Unidos estão nas trevas desde que assumiu o presidente republicano George W. Bush. E não podemos nos esquecer que, embora venha perdendo prestígio, ainda detém a aprovação de mais de 50% dos seus concidadãos. Assim, a escuridão, o obscurantismo, não é doença que esteja atingindo apenas o presidente e os demais governantes norte-americanos. Contagia parte expressiva do povo. Sob Bush e com o argumento de se defenderem do terrorismo de que foram vítimas, os Estados Unidos vêm desenvolvendo uma política imperialista que já detonou duas guerras, a do Afeganistão e a do Iraque. Em ambas, a comunidade internacional não foi consultada e foi até desprezada, quando opinou que tudo deveria ser feito com o consentimento da Organização das Nações Unidas. Isso, se fosse concedido. E não o foi.

Acresce que a Al-Qaeda não foi destruída no Afeganistão nem seu líder, Bin Laden, foi encontrado, como não foram achadas as alegadas armas de destruição em massa do governo Saddam Hussein, no Iraque. A justificar, ou gerar indulgências para o bélico novo imperialismo norte-americano, estão os argumentos de que no Afeganistão havia um governo de fanáticos religiosos, os talibãs, e no Iraque, uma ditadura feroz, com Saddam. Verdades, mas arrogar-se o direito de atacar e invadir países estrangeiros, destruindo-os e matando milhares de civis indefesos, inclusive mulheres e crianças, nos empurra para priscas eras, quando do Norte vinham hordas de bárbaros, destruindo tudo o que encontrassem pela frente, com o argumento final, definitivo e determinante: somos os mais fortes.

O blecaute que atingiu os serviços de energia elétrica nos Estados Unidos podem estar revelando uma contradição. A de que o país mais rico do mundo está atrasado no campo da energia elétrica. Mas o seu obscurantismo indica um mal muito maior e que pode destruir uma das mais admiradas civilizações que já se conheceu na terra: a democracia norte-americana.

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