O bem-amado

De temperamento afável e fala mansa, o responsável pela política de agricultura e abastecimento do governo Lula, o ministro Roberto Rodrigues, não despreza uma boa briga quando se trata de defender os interesses dos produtores rurais. Tem sido assim desde o início da atual administração e entre seus interlocutores estão os ocupantes mais nobres da Esplanada, começando por Palocci.

Rodrigues é executivo de trânsito aberto nos segmentos do agronegócio, sobretudo nas grandes cooperativas de produção, tendo presidido por muitos anos a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

Sua atuação no Ministério da Agricultura pautou-se, até o momento, pelo decidido entusiasmo com que se bate pela produção voltada ao comércio exterior, emulando com exatidão de um copista a passagem do gaúcho Marcus Vinicius Pratini de Moraes pela pasta.

Contudo, nos últimos dias, o ministro Roberto Rodrigues parece ter sentido o peso das constantes negativas oriundas do Conselho Monetário Nacional (CMN), quanto à prorrogação dos prazos de quitação do financiamento da safra passada. Chegou-se a especular em setores mais sensíveis o pedido de exoneração do ministro.

A safra de 2004/05 sofreu a elevada quebra de 18,4 milhões de toneladas, os preços dos principais produtos desabaram no mercado internacional e o câmbio passou a ter o sabor de limão azedo para os exportadores. Antevendo o arrefecimento dos produtores na intenção de plantio da próxima safra de verão, Rodrigues dirigiu sentidos apelos ao colega Antônio Palocci.

Quando alguma solicitação foi atendida, em parte, o anúncio somente foi feito com semanas de retardo – especialmente na dilação dos prazos do financiamento – tornando ainda mais agudo e incerto o planejamento da safra em início de implantação.

Rodrigues conseguiu fazer triunfar seus argumentos nas batalhas ideológicas travadas com Marina Silva, Miguel Rossetto e Dilma Rousseff, entre outros, logrando inclusive o afastamento do então presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, homem de ampla visão social e adepto da viabilização da agricultura familiar.

Palocci, discípulo amado do dono da chave do Tesouro norte-americano, John Snow, nesse momento está falando mais alto.

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