Novas emoções

Como ficou evidente nos dias anteriores ao pleito, a disputa pela Presidência da República tornou-se uma luta renhida e a decisão acabou ficando para 29 de outubro. A enorme vantagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve durante toda a campanha do primeiro turno – abalada pelo escândalo do dossiê Serra – não segurou a virada dos eleitores das regiões sudeste e sul, garantindo ao candidato Geraldo Alckmin (PSDB-PFL) quatro semanas a mais para reforçar a disposição de chegar ao comando da administração federal.

A diferença entre Lula e Alckmin caiu para algo em torno de sete pontos percentuais, à medida que o país teve ciência da amplitude da estúpida manobra do grupo de dirigentes petistas em benefício da candidatura do senador Aloizio Mercadante (SP), literalmente enxotado pelos eleitores paulistas. Reação que poderá ser fatal para o próprio presidente da República.

Aliás, apontam os analistas que os votos de São Paulo e Minas foram decisivos para levar a eleição presidencial ao segundo turno, graças ao desempenho altissonante da votação obtida por Serra e Aécio Neves. Essa tendência crescente dos últimos dias, no entanto, não foi detectada a contento pelos principais institutos de pesquisa, ante a certeza quase inerrante da vitória de Lula no primeiro turno.

Um erro clamoroso que os institutos deverão explicar também nos casos da Bahia e Rio Grande do Sul, onde ocorreu inversão desmoralizante para os institutos. Só eles não conseguiram enxergar a mudança de opinião dos eleitores. Na Bahia, o governador eleito no domingo foi Jacques Wagner (PT), que jamais ameaçou o primeiro colocado. No Rio Grande do Sul, a deputada Yeda Crusius, candidata tucana em terceiro lugar em todas as pesquisas, incluindo a da véspera da eleição, provocou o segundo turno, numa atropelada sensacional, contanto que fosse apenas um mero vislumbre na última pesquisa. Os institutos terão de convencer o governador Germano Rigotto – líder das pesquisas até sábado – quanto às causas da humilhante derrota e o desprezível terceiro lugar. O ex-governador Olívio Dutra (PT) enfrenta Yeda no dia 29.

A questão baiana trouxe em seu bojo uma conseqüência a mais: o poderoso míssil disparado na direção do fortim do cacique Antônio Carlos Magalhães, até aqui intocável e quase divino grão-vizir da política, que começa a ver seu império afundar com a derrota do delfim Paulo Souto, candidato à reeleição. Privilégio que os eleitores também negaram a governadores que davam como favas contadas o segundo mandato.

Entre eles estão Roseana Sarney (MA), Roberto Requião (PR) e Luiz Henrique (SC), constrangidos a disputar o segundo turno contra adversários motivados e capazes de desbancar os titulares. Em nosso estado, a disputa pelo Palácio Iguaçu deverá ter um acréscimo de emoção e confronto entre Requião e Osmar Dias. Não uma retaliação entre homens públicos tocados pela preferência popular (juntos tiveram mais de quatro milhões de votos), mas um duelo cívico com exposição clara e meridiana dos pontos principais de seus projetos, deixando ao eleitor a soberania de sua vontade.

O eleitor paranaense já disse a que veio e tal demonstração ficou patenteada na extraordinária votação atribuída aos candidatos de oposição. O atual modelo de gestão não recebeu a unção esperada por seus operadores, e o melhor que eles têm a fazer é repensar não só o estilo de fazer política, mas seus métodos autoritários e concentradores.

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