Notas frias

Aos poucos vão ganhando nitidez diante dos olhos da nação estupefata todos os contornos do horripilante drama instalado no País há mais de cinco meses. No início da semana, o presidente Lula – na entrevista ao Roda Viva – afirmou dispor de elementos suficientes para não dar crédito ao mensalão.

Pois as evidências que continuam espocando a cada dia mostram coisa muito mais grave que o repasse de reles R$ 30 mil a cada deputado integrante duma partícula catalogada na chamada base de sustentação congressual, conquanto exigisse indispensável chamego para não se deixar picar pela mosca da traição.

O que se fez, na verdade, transforma o mensalão numa espórtula concedida a políticos marcados pela indigência moral, mas, por isso mesmo, dispostos a qualquer tipo de vigarice em se tratando de empalmar uns caraminguás a mais.

A Receita Federal fez atenta verificação de 27 notas fiscais emitidas pela DNA, agência de Marcos Valério Fernandes de Souza especializada não apenas na criação de campanhas publicitárias para transformar água em vinho, mas em temerárias jogadas financeiras, concluindo que 11 delas eram frias. Ou seja, aludiam a serviços não executados cuja cobrança, decerto, cumpria a finalidade de arrecadar recursos.

Uma das notas varejadas pela Receita, no valor de R$ 6.454.331,43, foi emitida em nome da Visanet, empresa administradora dos cartões de débito e crédito do Banco do Brasil, que, segundo o relator da CPMI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), teria repassado R$ 10 milhões à DNA.

Várias outras notas tiveram como cliente a Amazônia Celular. A exemplo das similares de telefonia controladas pelo banqueiro Daniel Dantas até pouco tempo, mantinha contratos com as agências de Marcos Valério. Sabe-se que elas pagaram em três anos a pequena fortuna de R$ 100 milhões às agências mineiras. A convicção dos membros da CPMI quanto à origem do dinheiro transitado pelas arcas valerianas e daí escorrendo para o bolso de inúmeros deputados da aliança, ficou explicitada com o trabalho da Receita Federal.

O ídolo dos pés de barro mostra sua fragilidade e não mais resiste à comprovação das suspeitas que custaram o mandato do deputado Roberto Jefferson. E a verdade torna-se veemente, ao se verificar que algumas notas eram parte da papelada apreendida pela polícia, antes da queima na periferia de Belo Horizonte.

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