No FSM, Olívio Dutra ressalta convergências entre Brasil e Índia

O ministro Olívio Dutra (Cidades), representante oficial do governo brasileiro no Fórum Social Mundial, fez sua primeira aparição pública em Mumbai nesta sexta (16), dia da abertura do evento. Numa entrevista coletiva na sala de imprensa do Fórum, Dutra falou de temas como o protagonismo popular e a construção de uma cultura de paz. O ministro acredita que a realização do FSM na Índia será importante para estreitar os laços do país com o Brasil e com nações de características semelhantes, que não querem ?ser orientadas de cima para baixo pelos países mais ricos?.

Pergunta Na sua opinião, qual a importância da realização de um Fórum Social Mundial na Índia depois de três edições consecutivas no Brasil?

Olívio Dutra – A Índia é um país que já contribuiu muito para pensar a questão das diferenças, das desigualdades, das injustiças, da necessidade de termos um mundo diferente, que começa com a discussão das realidades regionais nos países e nos continentes. Este evento aqui é uma demonstração de que os povos de países como o Brasil, a Índia e a África não querem ser orientados de cima para baixo pelos países mais ricos.

Nós entendemos que o mundo pode ser diferente e que podemos, por meio do espaço do Fórum Social Mundial, reunir e aglutinar forças, aprofundar uma agenda e trabalhar no sentido de que vá se construindo mundialmente uma cultura não do egoísmo, nem das guerras, nem da acumulação do dinheiro e do capital, mas da solidariedade, da relação holística do homem com a natureza e com o meio ambiente, e de uma construção efetiva de uma paz que passa pela justiça social, pela distribuição da renda, pela geração de emprego digno para milhões de pessoas no mundo e pelo combate à miséria e à fome.

Pergunta Que impressão o sr. teve da abertura do Fórum de Mumbai?

Olívio Dutra – Não pude participar do ato inaugural do Fórum. Não cheguei a tempo para isso. Mas tenho relatos muito interessantes de que este encontro está sendo muito rico e importante no aspecto da diversidade e da pluralidade entre povos não alinhados com a visão neoliberal, com a visão da globalização do mercado e do capital. Eu penso que a abertura deste Fórum foi a demonstração de que queremos radicalizar o processo democrático em todo o mundo. Queremos também que as organizações supranacionais tenham controle público e democrático, possam ser fecundadas por um processo de participação que possibilite que o pensamento não seja único. Que construamos um pensamento global, diversificado, mas construtor da paz, da igualdade, da justiça, com participação cidadã, popular, com protagonismo dos nossos povos.

No nosso governo, queremos o protagonismo de todos, para que as mudanças já acontecidas possam ir mais longe, ser mais largas e para que possamos não só reduzir as distâncias entre os poucos ricos e os muitos pobres mas também gerar igualdade, justiça, fraternidade, democracia. Nosso país é uma democracia representativa e ela se aperfeiçoa na medida em que a construirmos com participação constante das pessoas. Um processo em que as pessoas sejam cidadãs não ocasionalmente, mas permanentemente no cotidiano de suas vidas.

Isso está em processo no Brasil. Estamos promovendo mudanças no país com o protagonismo de milhares de pessoas. Um exemplo disso foi a realização das conferências das Cidades, da Saúde, do Meio Ambiente… São milhões de brasileiros que antes não tinham voz nem vez e que agora passam a ter, na discussão de políticas e da política. O processo, evidentemente, não é mágico, não faz as mudanças acontecerem de uma hora para a outra. Mas o que fizemos até agora é uma demonstração de que o nosso governo quer que o povo brasileiro não seja objeto da política, mas sujeito dela.

Pergunta A atuação do primeiro ano de governo Lula na área social recebeu críticas das próprias organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais. A presença do governo brasileiro neste fórum é um reencontro com os movimentos sociais, busca afinar propostas para um novo modelo da atuação daqui para a frente?

Olívio Dutra – O governo do companheiro presidente Lula respeita fundamentalmente os movimentos sociais. Somos originários dele, temos compromisso com ele. Respeitamos sua pluralidade, sua diversidade, sua riqueza. Não confundimos os movimentos sociais com o governo ou com o Estado. Eles não podem ser correia de transmissão de partidos nem de governo. Nós preservamos este espírito de independência, de autonomia dos movimentos sociais. Assim como o governo também deve ser respeitado pela sua autonomia. O governo também não é mero reflexo dos movimentos sociais. E nós não estamos aqui para reatar relações com os movimentos sociais, porque elas nunca foram cortadas. Estamos aqui justamente porque entendemos que o Fórum Social Mundial é um espaço importante de reflexão e de debate para as questões sociais mundiais. A paz, a justiça, a construção de um mundo novo baseado não no hegemonismo sobre os outros. Isso é fundamental e está no bojo das ações do nosso governo.

Pergunta Quais as principais diferenças que o sr. sente entre os Fóruns de Porto Alegre e este de Mumbai?

Olívio Dutra – Eu trabalho mais com as convergências, com as semelhanças. E há muitas convergências deste Fórum com a América Latina, com o Brasil. Estamos propondo inclusive um G3, formado por Índia, Brasil e África do Sul. São países com muitos problemas semelhantes e com muita disposição para mudar esta realidade, por meio de uma presença mais soberana no cenário internacional, fugindo dos blocos hegemônicos dos países econômica e militarmente mais fortes. É importante que esta edição do Fórum esteja acontecendo aqui na Índia, para que nos conheçamos melhor.

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