Negociações salariais

O trabalhador brasileiro vem perdendo renda. Seus salários têm menor poder aquisitivo, seja pela inflação não reposta nos acordos coletivos de trabalho, seja pela rotatividade da mão-de-obra, com demissões e substituições por trabalhadores menos remunerados. De outro lado, a baixa oferta de postos de trabalho, diante de uma imensa e crescente demanda, deprime os salários oferecidos e obriga os que necessitam trabalhar a aceitar ganhos irrisórios, às vezes ínfimos.

Há poucos dias, uma entidade ligada à Prefeitura Municipal de Curitiba anunciava concurso para admissão de funcionários. Para espanto de quem tomou conhecimento do assunto via imprensa, funcionários requisitados, de nível superior, se passarem no concurso público e forem convocados, ganharão pouco mais de R$ 1.000,00 por mês. O poder público também colabora para o achatamento salarial e as exceções, que são os poucos casos de servidores bem remunerados, são usadas para fazer crer ao povo que os governos pagam bem ou até demais. Há um desequilíbrio de forças entre trabalhadores e empregadores. A livre negociação presume adequada legislação e equilíbrio de forças, o que não ocorre.

Estudos do Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos revelam que, neste ano de 2003, as negociações para reajustes salariais serão tensas. Um dos motivos é que, nos anos passados, durante a administração Fernando Henrique Cardoso, os trabalhadores perderam renda. Seus reajustes quase sempre foram abaixo da inflação.

No ano passado, das 499 categorias acompanhadas pelo Dieese, apenas 54,7% conseguiram reposição salarial superior ou igual ao INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do IBGE. Em 1999, o índice ficou abaixo desse patamar. No ano passado, 249 categorias, ou seja, 45,3% do total, tiveram reajustes abaixo da inflação.

Wilson Amorim, coordenador-técnico do Dieese, diz que “o mercado alimentou, no ano passado, incertezas sobre o que aconteceria depois das eleições, o que puxou o risco-Brasil e a inflação, principalmente nos últimos três meses do ano. O mercado de trabalho reagiu elevando o desemprego e diminuindo o poder de barganha”.

Neste ano, as negociações serão tensas. Há perdas acumuladas em razão de sucessivos índices de inflação passada e outros que se acredita virão, pois as previsões, para os próximos meses, não são otimistas. Considere-se, de outro lado, que o presidente é Lula e seu partido, o dos Trabalhadores, constitui um governo que, por sua história, terá de demonstrar que está ao lado dos trabalhadores e, pelas circunstâncias econômicas e multiplicidade de problemas que se comprometeu a resolver, instila nas massas trabalhadoras expectativas de atendimento de reivindicações que julga foram ignoradas nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso.

Lula já enfrenta seus antes aliados do MST, na questão de terras. Também as alas mais ortodoxas do seu partido, em questões como acordos com o FMI, independência do Banco Central e aumento da taxa básica de juros. Agora, vai ter de enfrentar tensas negociações com os sindicatos e centrais sindicais e inclusive greves, algumas já marcadas. Ontem estourou a primeira, em São Paulo, envolvendo metalúrgicos do ABC. As centrais sindicais já começam a demonstrar independência e revelar posições críticas em relação ao governo. Mesmo que tenha carradas de justificativas e escusas, o governo Lula vai ter de enfrentar a oposição de seus antigos aliados.

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