Não tão petista

As relações entre o presidente Lula e o PT, partido que ajudou a fundar e liderou durante toda a sua existência, foram se deteriorando a partir da conquista do poder. Desandou porque a realidade de governar exigiu comportamentos na área política e econômica diversos, senão opostos, aos que pregavam em uníssono. Deteriorou-se mais quando a esquerda ortodoxa do PT, pequeno grupo mais autêntico, discordou da política econômica neoliberal adotada e das reformas da previdência e tributária, principalmente daquela, pois contrariou as teses que sempre foram suas bandeiras. Desandou porque as reformas sociais e a agrária não se fizeram ou caminham a passos de tartaruga, frustrando quem na trincheira da oposição atribuía a sua não-realização à falta de vontade política do governo FHC, ao qual se opunham ferrenhamente. E deteriorou-se diante da conjuntura que obrigou Lula e o PT a descaracterizar o governo, que passou do comando dos trabalhadores para uma estranha salada de partidos e siglas, tudo em nome da indispensável maioria parlamentar. Essa deterioração chegou ao máximo quando foi denunciada a existência, por atacado, de corrupção em vários órgãos governamentais e o uso do chamado mensalão, compra de votos para atrair ?aliados?.

As relações entre o PT e Lula estremeceram e foi se sedimentando a idéia de uma profunda reforma administrativa e ministerial, que só não se deu antes porque os escândalos ocupavam todas as atenções e manchetes. Afinal, começa a reforma com a queda de José Dirceu, tido e havido como uma espécie de Rasputin do governo, o homem forte da administração Lula. A cabeça pensante e mandante que, por isso mesmo, plantou inimigos e opositores e, muitas vezes, ao invés de ajudar, atrapalhou a gestão de Lula.

Dirceu volta para o Congresso, como deputado federal por São Paulo, com a intenção de ser um defensor intransigente do PT, embora existam muitos deputados, inclusive no seu partido, que sonham com a sua cassação. Ou, como o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, a cassação do mandato dele e de todos os referidos nos escândalos dos Correios, Instituto de Resseguros, mensalão e outros que aparecem com freqüência no noticiário, o primeiro deles o de Waldomiro, amigo íntimo e auxiliar do próprio José Dirceu, que achacava bicheiros.

Na reforma, promete Lula, ou em seu nome prometem, além de mudança de ministros e ocupantes de outros altos cargos no governo, uma administração federal reduzida, com menos cargos de confiança. O resultado de tudo será a descaracterização do governo como administração liderada pelo Partido dos Trabalhadores. Passará a ser governo de Lula com uma coligação heterogênea e amorfa, onde se misturam liberais, neoliberais, reacionários, burgueses, políticos profissionais e alguns petistas. Estes não constituiriam mais do que uma pequena e menos expressiva ala do governo Lula.

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