Não só “bochinchos”

Outro nome incomoda o governo do PT e, por ironia do destino, chama-se Sereno. O economista Marcelo Sereno, chefe de gabinete do ministro José Dirceu, diz, como o chefe, que nada teme. Mas está sendo citado como um dos que sabiam (além do próprio “capitão” do time de Lula) dos fatos que envolvem o ex-assessor parlamentar Waldomiro Diniz com o submundo do jogo e com a arrecadação de fundos de campanha. Para tentar evitar contaminação maior, já se anuncia que ele, que pertence à direção nacional do PT e foi da direção nacional da CUT, deixará o governo, onde até pouco tempo cuidava da distribuição dos cargos.

Antigo militante da esquerda mais radical, Sereno estaria saindo para dar uma “mãozinha” nas eleições municipais. Embora a coincidência do anúncio de seu afastamento ocorra logo após a denúncia do ex-secretário nacional de Segurança, Luiz Eduardo Soares, próceres do PT continuam cometendo os erros iniciais. “Se ele sair, não será por causa de boatos”, antecipa o presidente da agremiação, José Genoino. “O PT – gaba-se o mesmo Genoino – não age para responder a boataria e a bochinchos.” Não é bem assim.

Mas quem disse que são apenas boatos esses que causam a maior crise dentro do governo do PT desde que se instalou há pouco mais de ano no Planalto? Mesmo que o partido continue lutando para que vejamos nas denúncias apenas a figura de um Waldomiro navegando sozinho em todo esse mar de lama, a imagem que ficou indelevelmente calcada na mente dos brasileiros é outra. E infelizmente está cada vez mais associada a outras imagens também nada boas, como aquela de um monte de dinheiro sem origem sobre uma mesa de uma empresa abandonada que levou a filha do atual presidente do Senado, Roseana Sarney, a desistir da campanha presidencial vencida por Lula.

Lá, como cá, tudo está sujeito a terminar em pizza, isto é, em nada, apesar de alguns ensaios de inconformismo aparente. Mesmo ainda não de todo sarado daquele episódio, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, repete calmamente agora que os fatos existentes são “concretos” e “precisos” e justificam uma CPI. Seu partido, diz o velho cacique catarinense, “não está pedindo o impeachment, não gritamos fora Lula, não reclamamos a demissão de ministros, não estimulamos nervosismo na economia (…), mas infelizmente não se pode dispensar a investigação”. A seu lado, entretanto, um Antônio Carlos Magalhães envergonhado gaba-se de “grande ajuda” ao governo, convencendo colegas a não subscreverem o pedido de investigação parlamentar sobre os “boatos” que envolvem o principal homem do governo do PT.

Esses “boatos” referidos por Genoino são os mesmos que fizeram sete de seus senadores assinarem espontaneamente o pedido de uma das CPIs que Sarney tentou evitar desde o começo. Embora não tenha desistido da empreitada, ele já percebeu o desgaste em que incorre, a ponto de devolver ao próprio PT a tarefa de bloquear a investigação. Se eles assinaram, que retirem as assinaturas; caso contrário, havendo as assinaturas, não há como não proceder a instalação da CPI. No Senado, querem usar Sarney para bloquear a investigação enquanto os líderes do PT continuam posando para a opinião pública como os que nada temem. Nem fatos, nem boatos, nem bochinchos…

Fatos que só o PT não quer ver, embora sejam contados ao vivo e em cores pela televisão, como está fazendo o filho de Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul, onde o dinheiro do jogo garantiu a ascensão de gente que, se perdeu o controle do governo do estado na última eleição, encontra-se agora encastelada no governo federal. Gente que, como Waldomiro, Olívio Dutra, Sereno, provavelmente Dirceu e muitos outros, sabia das coisas e com elas concordou. Ou não? Para dissipar a terrível e relevante dúvida, só investigando.

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