Universidade Andrews completa 35 anos de escavações na Jordânia

ARQUEOLOGIA DO ORIENTE MÉDIO

Desde que a ciência da Arqueologia tem favorecido, com suas múltiplas e variadas descobertas, o conhecimento de civilizações passadas, diversas instituições acadêmicas ficaram estimuladas a contribuir com suas pesquisas na busca de maior esclarecimento em relação aos relatos da história bíblica. Uma dessas instituições é a Universidade Andrews, de Michigan, Estados Unidos, mantida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia que, desde a década de 60, realiza escavações arqueológicas em terras bíblicas.

O lugar escolhido e autorizado para executar tal empreendimento foi a Colina Tell Hesban, localizada 25 quilômetros a sudeste de Amã, capital da Jordânia, e dez quilômetros ao norte de Medeba, na mesma região. Tell Hesban encobre possivelmente as ruínas da antiga cidade bíblica de Hesbom.

Hesbom foi a capital do reino amorita nos tempos de Sihon e foi a primeira cidade a ser conquistada pelos israelitas dirigidos por Moisés (Núm. 21:12-30). Posteriormente, a região foi cedida mediante sorteio à tribo de Rúben, embora mais tarde se tornasse possessão da tribo de Gade.

O profeta Isaías menciona Hesbom como uma cidade moabita (Isa. 15:2,4; 16:8, 9). Provavelmente, Moabe apoderou-se da cidade durante a guerra contra Israel nos dias de Acabe. No entanto, os registros do profeta Jeremias indicam que a cidade passou a pertencer aos amonitas (Jer. 49: 2,3).

No século II a.C., os hasmoneanos, no governo de João Hircano, estenderam seu domínio territorial para a Transjordânia e incluíram a cidade de Hesbom. Durante os primeiros séculos do cristianismo, Hesbom foi sede de um bispado e, nos anais do Concílio de Nicéia (325 d.C.), menciona-se como o seu representante, o bispo Genadius. Mais tarde, declinou sua importância como metrópole, sendo abandonada quando ainda era uma pequena vila árabe, e suas ruínas sepultadas.

Escavações

A primeira campanha de escavações, patrocinada pela Universidade Andrews, foi planejada para ser executada em 1966, porém, a Guerra dos Seis Dias, entre Israel e os países árabes, protelou a data para 1968. Essa campanha foi dirigida pelo doutor Siegfried Horn, contando com uma equipe de 186 integrantes. Horn dirigiu também as campanhas de 1971 e 1973. As campanhas seguintes foram dirigidas pelo doutor Lawrence Geraty.

Desde as primeiras campanhas de escavações em Tell Hesban, descobriu-se uma multiplicidade de vestígios que carregam uma história de quatro milênios de mudanças da sua configuração sobre a ocupação humana e vida doméstica. Esses vestígios demonstram que, desde os alvores da sua história, essa região fora ocupada alternadamente por povos de hábitos sedentários e por povos de hábitos migratórios ou simplesmente não-sedentários. Observou-se que Tell Hesban começou a ser ocupada muito tempo depois do homem proceder a domesticação de animais, e depois de terem sido construídas cidades. Os vestígios que afloravam eram ruínas de vilas, pequenos povoados, construções para a proteção de animais e instrumentos de agricultura (hábitos de sedentarização) que se alternavam com vestígios de sítios de acampamentos, depósitos de alimentos e sepulturas dispersas (hábitos de povos migratórios).

Dilema

O propósito primário das escavações arqueológicas em Tell Hesban era construir e analisar as variadas dimensões que a alternância dos vestígios apresentava desde 1500 a.C. As interrogantes mais intrigantes que surgiram nesse panorama eram enunciadas do seguinte modo: Qual foi a extensão e natureza da ocupação sedentária nos diferentes períodos? Qual foi a extensão e natureza das populações migratórias cujas pegadas foram deixadas em períodos diferentes?

Diante desse dilema exposto, precisou-se formular um método ou sistema de estudos que permitisse, em perspectiva, avaliar os restos arqueológicos de Tell Hesban, para que pudessem ser compreendidos como um todo. O método escolhido para tal efeito foi o de seguir uma linha de pesquisa baseada na análise do sistema de alimentação usado pelas diferentes populações sedentárias e nômades que ocuparam essa região.

Esse método permitiria conhecer a intensidade do grau de sedentarização e de nomadismo das populações que ocuparam essa região, para reconstruir a seqüência histórica de Hesbom ao longo dos séculos. Foram requeridos para tanto, a participação de um especialista em ossos, Robert Little, um geólogo, Reuben Bullard, e outros técnicos que acompanharam os trabalhos nas sucessivas campanhas arqueológicas.

Nas próximas semanas serão apresentados os resultados das pesquisas arqueológicas que, seguindo o método mencionado, foram obtidos pelas equipes de escavadores que atuaram em Tell Hesban.

Rubén Aguilar

é doutor em História Antiga pela USP, arqueólogo e professor do curso de Teologia no Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP.

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