Um presente diferente neste Natal

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Estamos a uma semana do Natal e não há como deixar de fazer uma reflexão a respeito, o que representa ou deveria representar esta data. Em relação ao aniversário de nascimento de Cristo, o seu significado vai muito além de uma lembrança histórica e deve ser vista como um signo universal, ultrapassando as barreiras da incompreensão criadas pelo sectarismo humano.

Importa pouco a sua origem judia e a tradição dita cristã, constituída depois em torno de sua figura, uma vez que ele próprio não criou religião alguma, apenas desejava reformar princípios e práticas vigentes no seio da sociedade em que viveu. Faz pouco sentido, portanto, dividirmos o mundo entre três grandes religiões monoteístas, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Primeiro pelo caráter excludente para com as demais, e segundo porque os ensinamentos de Jesus servem a qualquer indivíduo independente do rótulo pelo qual se identifica no mundo em termos de fé.

As interpretações sobre os objetivos de sua passagem pela Terra podem variar, o mesmo ocorrendo em relação a alguns de seus preceitos. Porém, o que ficou imortalizado dela, além do testemunho pessoal, foi a mensagem que convida a uma salutar convivência humana, baseada na fraternidade, no amor, na tolerância e no perdão como receita de se obter a tão desejada paz.

E aí nós vemos, no transcurso destes vinte séculos, o quanto os homens conseguiram ficar distantes disso. Malgrado a índole mais pacifista de um ou outro povo e dos esforços de alguns milhares, ou até milhões, de indivíduos em vivenciar e transmitir estes sentimentos; via de regra, o poder concentra-se justamente naqueles que desrespeitam os princípios norteadores de uma vida em comum, feliz. Quer na política, no uso dos recursos econômicos e, com forte e lamentável destaque, na religião, cujas alternativas apresentadas até hoje não satisfazem as expectativas dos que pretendem implantar uma sociedade renovada pela regeneração moral do planeta, em contraposição ao estágio de provas e expiações em que estamos mergulhados atualmente.

Se no trato das coisas ligadas estritamente à vida material não surpreende que vigorem os sentimentos de egoísmo e total desprezo às necessidades e direitos alheios, o mesmo não se pode dizer quando falamos das instituições que, mais do que quaisquer outras, deveriam primar pela defesa do bem acima de tudo.

Infelizmente, elas, as religiões, com exceção de vários e inegáveis resultados positivos, estão aí recorrendo às mesmas estratégias de dominação usadas pelos materialistas. As mesmas armas são utilizadas: a exploração econômica, a ultrajante manipulação da fé, a manutenção do véu de ignorância que impede os fiéis de pensarem por si mesmos, o cerceamento da liberdade pela imposição de dogmas e ameaças, a violência fraticida desencadeada a partir de um sectarismo injustificável. Exemplos temos no passado e no presente. As Cruzadas e o Tribunal do Santo Ofício, católicos versus protestantes na Irlanda do Norte, o fundamentalismo islâmico no Oriente Médio, os conflitos sangrentos que não se resolvem pelo diálogo no Paquistão e na Índia, e muitos outros.

Toda vez que se pretende usar de algum tipo de força para convencer alguém a pensar como nós, ainda que munidos das melhores intenções, estamos transgredindo princípios éticos e até a legislação humana que assegura o direito individual da livre escolha sobre aquilo que lhe convém em termos de crença e fé, até mesmo o de não possuir nenhuma. Então por que atacar, por que estigmatizar, perseguir, falar mal, criar muralhas no relacionamento familiar, social, no ambiente de trabalho só porque o outro tem uma visão de mundo diferente da nossa?

Recordo uma frase do economista, professor e colunista da revista Veja, Stephen Kanitiz, por ocasião desta época, há uns quatro ou cinco anos atrás. Disse ele que se os homens já provaram suficientemente que não são capazes de se amar uns aos outros como recomendou o Cristo, que, pelo menos, tentássemos o ?Respeitai-vos uns aos outros?. Seria já um passo importante para melhorar as relações entre pessoas que se dizem irmãos. O orador Divaldo Pereira Franco lembra que Jesus nos disse para nos amarmos uns aos outros e não nos amassarmos uns aos outros.

Isto implica na aceitação de todas as peculiaridades que compõem as personalidades de nossos semelhantes como raça, cor, cultura, condições socioeconômicas e religiosas, varrendo de vez de nossas vidas os preconceitos, a intolerância, os ódios destruidores. Lembre-se que, da mesma forma como são importantes para você, o seu bem-estar, seus sonhos, a família e os sentimentos em relação a Deus, o mesmo acontece com os outros e eles têm tanto direito de expressar este estilo de vida quanto cada um de nós.

Portanto, neste Natal, seja você cristão ou não, aproveite o clima favorável e dê um presente aos outros e a si mesmo. Comprometa-se a ser menos rígido em suas idéias e aceite os outros como eles são. Lembre-se que a sua verdade, por ser relativa e incompleta, pode não ser a do outro. Não faça dela, portanto, uma bandeira de discórdia. Dê tempo ao tempo e a maturidade moral e intelectual alcançará a todos. E não tenha medo ou vergonha de mudar seu ponto de vista e admitir que, de repente, o outro está certo e você errado.

Jesus não excluiu de seu convívio os miseráveis nem os ricos, os enfermos, as prostitutas ou aqueles que representavam o poder romano. Recomendava a prática da humildade, do amor e do perdão como requisitos para a conquista do reino do espírito. Indicava o caminho da redenção, mas jamais obrigava ninguém a segui-lo. Se você quiser tirar um saldo positivo deste Natal, reflita sobre os ensinamentos do homenageado. Como também poderá aprender muito examinando as lições de Buda, Krishna ou com os lamas tibetanos. Não importa a fonte desde que a água dela emanada seja capaz de saciar a sede de justiça e amor em nossos corações.

Assoc. de Divulgadores do Espiritismo do Paraná.

E-mail: adepr@adepr.com.br

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