Sete peixes marinhos ameaçados no Paraná

O Brasil tem cerca de 8 mil quilômetros de regiões costeiras e uma fauna marinha considerada rica. Porém muitas espécies de peixes entraram para a lista de animais que correm risco de extinção, caso não sejam adotadas medidas de preservação.

Segundo o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção do Estado do Paraná, lançado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) no ano de 2004, no litoral paranaense podem ser encontradas cerca de quinhentas espécies de peixes. Dessas, sete estão ameaçadas de extinção: duas espécies de peixe-serra, cação-anjo, tubarão-branco, raia-viola ou cação-viola, cavalo-marinho e mero.

Entre os diversos fatores que levam as espécies marinhas à extinção, o principal é a explotação, ou seja, a pesca industrial, predatória, sem controle e realizada sem conhecimento profundo dos animais que estão ou não à disposição. O biólogo Vinícius Abilhoa, do Museu de História Natural do Paraná, afirma que os métodos de pesca estão mais modernos e eficientes, fazendo com que uma quantidade cada vez maior de animais seja retirada da água.

"No litoral paranaense, a pesca é basicamente artesanal. Porém, existem embarcações de outros estados (Santa Catarina e São Paulo) que pescam por aqui e realizam a chamada pesca de arrasto (quando são estendidas redes que fazem varredura no fundo do mar). As redes fixadas aos barcos acabam levando tudo o que encontram pela frente, inclusive plantas e animais cuja carne não é utilizada", explica. "Dessa forma, o fundo do mar vai ficando devastado e os pescadores locais, que utilizam sistemas artesanais, encontram cada vez menos o que pescar e têm sua sobrevivência dificultada".

Mero

Com exceção do cavalo-marinho, todas as outras espécies consideradas ameaçadas de extinção têm a carne bastante apreciada e são afetadas pela pesca predatória. Atualmente, um dos animais que mais gera preocupação entre cientistas, pesquisadores e integrantes de organizações não governamentais voltadas a preservação das espécies é o mero, que pode chegar a pesar quinhentos quilos e medir três metros de comprimento. "A carne do mero é considerada bastante saborosa e tem grande valor comercial. O peixe cresce muito e é hermafrodita. Dessa forma, quando indivíduos muito jovens são pescados, são eliminadas as fêmeas. Já quando os indivíduos adultos são retirados da água, são eliminados os machos", informa Vinícius.

Devido ao tamanho, o mero é bastante visado para pesca esportiva. No litoral do Estado, o Instituto Ecoplan – uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos – vem instalando, desde 1997, recifes marinhos artificiais no fundo do mar com o intuito de ajudar na preservação do mero. Já foram instaladas cerca de duas mil estruturas, feitas de concreto especial, entre as ilhas de Itacolomis e Currais. A idéia é de que os falsos recifes sirvam de abrigo ao peixe. Atualmente, a pesca do animal está proibida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Quem desobedecer a determinação fica sujeito à multa e prisão.

Tubarão e cavalo-marinho

O tubarão-branco também tem uma particularidade. Suas nadadeiras, chamadas galhas, têm bastante valor financeiro, costumam ser cortadas e exportadas para o Japão, onde as pessoas as utilizam para preparar sopas. Já o cavalo-marinho costuma ser pego por engano por embarcações que promovem pesca de arrasto e, muitas vezes, comercializado como animal de estimação em lojas de aquários. Algumas pessoas também o utilizam como adorno na confecção de peças de artesanato e para fins medicinais, acreditando que ele possa ser afrodisíaco – mas isso não está cientificamente comprovado.

Conservação

Para evitar que futuramente algumas espécies passem a ser vistas apenas em fotografias e aquários artificiais, o biólogo alerta que devem ser criados programas de avaliação do potencial marinho paranaense, visando o manejo sustentável; deve ser realizada fiscalização acentuada, tendo o arrasto como foco principal; e promovidos trabalhos de educação ambiental, visando minimizar a poluição da água do mar, sendo que espécies que vivem perto do continente são as mais afetadas.

Espécies de água doce também correm risco

Não são apenas os peixes que vivem no mar que sofrem ameaça de extinção. Muitas espécies de água doce também podem desaparecer devido a influência do homem sobre o meio ambiente. No Paraná, são cerca de quatrocentos peixes que habitam os rios. Destes, 22 estão ameaçados de extinção.

O biólogo Vinícius Abilhoa explica que entre as espécies de água doce existe o problema do auto-endemismo, isto é, algumas espécies só ocorrem em locais específicos, ficando mais sujeitas ao desaparecimento caso o ambiente em que vivem seja destruído.

"Com o crescimento das cidades, a maior utilização da água, a criação de reservatórios e a poluição, muitos ambientes acabam sendo eliminados. Com isso, muitos peixes perdem seu habitat natural, não encontram mais condições para sobreviver no local e acabam desaparecendo", comenta.

Vinícius acredita que os órgãos ambientais estão cobrando uma postura correta dos empreendedores, incentivando-os a não poluir e aplicando multas a pessoas que se mantêm em situação irregular. Porém, muitas vezes os danos gerados por determinado empreendimento acabam sendo grandes demais. "A qualidade da água de muitos rios que cortam o Paraná é considerada bastante precária. Tanto o despejo irregular de esgoto quanto a destruição da mata ciliar, a criação de aterros e a ocupação de várzeas influenciam nas condições de sobrevivência dos peixes de água doce".

Embora menos, a pesca também representa ameaça às espécies que vivem nos rios. Costumam ter a carne apreciada o dourado, o surubim e o pintado.

Piabinha

Um peixe de água doce considerado criticamente ameaçado, de acordo com Vinícius, é o chamado piabinha (Rachoviscus crassiceps), um animal que chega a medir quatro centímetros e tem ocorrência apenas na região de Guaraqueçaba, no litoral do Estado. "O que ameaça este peixe é a drenagem geralmente realizada na região onde ele vive. O piabinha ainda não foi registrado em unidade de conservação e, atualmente, é mais facilmente encontrado na região de Santa Catarina". (CV)

Produtores de SP pagam para retirada de sementes de ostras

Assim como existem peixes ameaçados de extinção, as ostras podem deixar de ser encontradas no litoral do Paraná caso não haja preocupação com a conservação. Atualmente, produtores do litoral Sul de São Paulo têm retirado sementes (ostras bem pequenas e ainda impróprias à comercialização) do litoral paranaense, representando uma ameaça às espécies que se desenvolvem na região.

"Os produtores criaram grandes cultivos no Sul de São Paulo e acham mais barato retirar as sementes de ostras do Paraná. Muitos pagam integrantes das comunidades litorâneas para realizaram o serviço. Essas pessoas são usadas e não percebem", afirma o coordenador do Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais da Universidade Federal do Paraná (GIA), Antônio Ostrensky.

Outra ameaça à sobrevivência das ostras está no fato de os paranaenses não conhecerem a capacidade dos bancos naturais de seu litoral e dos produtores locais os utilizarem sem pensar na preservação. Segundo Antônio, nas regiões de Guaratuba e Ilha das Peças existem cerca de trinta produtores. Desses, apenas quatro compram as sementes de laboratórios de cultivo, como os existentes em Santa Catarina.

"A maior parte dos produtores paranaenses tira as sementes dos bancos naturais e as levam para locais próprios para realizar o cultivo. Se todo mundo fizer isso, logo os bancos naturais irão acabar e o animal irá deixar de existir no litoral do Paraná. O ambiente não suporta a retirada constante e sem controle das sementes".

Com o objetivo de conscientizar as comunidades litorâneas e fazer com que o cultivo de ostras seja sustentável e uma alternativa à pesca, o GIA criou, no início deste ano, o projeto Cultimar. Além de promover educação ambiental, o grupo também visa aproximar produtores de ostras de consumidores. (CV)

Tucunaré, vilão dos rios do Estado

Nájia Furlan

As espécies exóticas da flora e da fauna são alguns dos maiores vilões dos problemas ambientais. De acordo com ambientalistas, a introdução dessas espécies impede o desenvolvimento dos exemplares nativos. Geralmente as discussões são em torno de espécies de mais destaque – como o pinus, o búfalo -, enquanto outras, pouco visíveis por estarem debaixo d’água, se alastram, preocupam pesquisadores, mas pouco é feito. É o caso do tucunaré, trazido da Bacia Amazônica para os rios do Paraná.

"A espécie foi liberada, segundo nosso registros, já em 1985, mas era um ou outro exemplar. Hoje é uma espécie extremamente abundante, não só na Bacia do Paraná, como na Bacia do Iguaçu", afirma o professor de ecologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ângelo Antônio Agostinho.

O problema, segundo o coordenador estadual de aqüicultura e pesca do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) da região de Toledo, Cassiano Maranhão, é que o peixe, introduzido sem qualquer planejamento, traz quase nenhum benefício. "É altamente impactante; tem uma capacidade de comer onze peixes por dia", afirma. O professor da UEM ainda completa. "Ele é extremamente voraz e predator: seria um dos responsáveis pela redução do número de outras espécies, nativas da região", afirma Agostinho.

Em 2004, na região de Itaipu, 12 toneladas de tucunaré foram desembarcadas pela pesca profissional, o que comprova a abundância da espécie, preferida no comércio, e também a ameaça. "O maior prejuízo que ele causa é a redução das outras espécies a um limiar crítico. Por enquanto não chegou, no Rio Paraná, a nenhuma espécie nativa extinta, mas sabemos que isso acontece, como já aconteceu em Rio Doce, onde mais de cinco espécies nativas foram eliminadas", explica o professor. Porém, mais preocupante que a quantidade de tucunaré no Rio Paraná é a mesma situação no Rio Iguaçu. "Cerca de 80% da fauna que ocorre no Rio Iguaçu, ocorre somente lá. Uma extinção de espécie no Iguaçu significaria a extinção de espécies do mundo. O problema é muito mais sério do que se imagina", afirma.

Segundo Maranhão, o peixe teria sido introduzido no Estado "pelo pessoal da pesca amadora." Além de serem os responsáveis pela presença do peixe, os pescadores seriam também a solução para o controle do peixe amazônico. O ideal, segundo os profissionais, seria que ao pescar o tucunaré o pescador não o devolvesse ao rio, o que não ocorre. "Para garantir que tenha o peixe no ambiente, eles soltam", afirma Agostinho.

O representante do IAP de Toledo afirma que existem diversos trabalhos de pesquisas, feitos pelas universidades, e de caráter preventivo, desenvolvido pelo Estado, como as medidas de pesca livre da espécie. Porém, quanto às ações de combate direto, que impeçam a provável extinção de peixes únicos no Estado, "nada está sendo feito", aponta. 

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