Opositores de Fidel não prevêem mudança a curto prazo

Grupos de oposição ao governo cubano deram pouca importância nesta terça-feira (19) à renúncia de Fidel Castro à presidência de Cuba e disseram não prever nenhuma mudança significativa no curto prazo. Pelo mundo, líderes ocidentais receberam com uma satisfação cautelosa a notícia, preferindo apontar para o surgimento de uma oportunidade de reforma depois de décadas. Aos 81 anos, Fidel anunciou hoje que não concorrerá à reeleição no domingo, quando o novo Conselho de Estado de Cuba elegerá o presidente do órgão de governo.

Em Bruxelas, o chefe de política externa da União Européia (UE), Javier Solana, considerou que a decisão de Fidel "pode encaminhar Cuba rumo a um processo de transição" para um regime democrático. Na Espanha, funcionários do governo socialista manifestaram a esperança de que a renúncia de Fidel Castro leve a reformas democráticas em Cuba.

"O fato de ele ter renunciado formalmente à presidência cria um momento no qual poderá vigorar com maior capacidade, solidez e confiança esse processo de reformas sobre o qual ele mesmo comentou e que poderia começar a se materializar", disse Trinidad Jiménez, vice-chanceler encarregada de assuntos de América Latina, em entrevista à Rádio Nacional da Espanha.

Mariano Rajoy, líder do conservador Partido Popular e candidato de oposição a primeiro-ministro da Espanha nas eleições gerais de 9 de março, manifestou a esperança de que a renúncia de Fidel represente o princípio da chegada da Democracia a Cuba. "Espero que logo chegue a Democracia, pois caso contrário, seria um absurdo", disse Rajoy à Rádio Punto.

Grã-Bretanha e Rússia

Em Londres, a chancelaria britânica declarou-se à espera de mais reformas políticas e econômicas em Cuba. "É isso o que esperamos uma transição rumo à Democracia e a um maior respeito aos direitos humanos", disse um porta-voz da Secretaria de Exterior da Grã-Bretanha, que pediu para não ser identificado.

Ed Davey, parlamentar da oposição liberal democrata, também defendeu que a renúncia de Fidel seja um ponto de partida para mais reformas. "Sem Fidel Castro, temos a esperança de que Cuba conduza mais reformas e una-se ao mundo democrático. Seria uma tragédia se começasse uma dinastia familiar", afirmou.

Em Moscou, o Kremlin ainda não se pronunciou sobre a notícia, mas Guenadi Zyuganov, líder do Partido Comunista da Rússia, qualificou Fidel como um político brilhante. "Ele empunhou a bandeira da independência e do Socialismo bem alto na ilha da liberdade, na América Latina e em todo o hemisfério ocidental. Mas o tempo é implacável. E Fidel tomou a decisão certa: entregar o poder a uma geração mais jovem de líderes", disse.

Peru

O governo peruano considerou que a renúncia de Fidel "representará o fim de uma etapa" e manifestou a esperança de que "o processo de transferência de poder seja pacífico e ordenado e se oriente na direção de uma vida democrática em Cuba". À imprensa local, o chefe do Conselho de Ministros do Peru, Jorge del Castillo, disse que Fidel "teve conquistas favoráveis, como o avanço da saúde e da educação, assim como um lamentável saldo de restrições à liberdade e repressão".

A Fundação Cubano-Espanhola, uma entidade com sede em Madri que ajuda exilados cubanos na Europa e dissidentes em Cuba, considera que a renúncia apenas formalizará um fato consumado: Raúl Castro, de 76 anos, continuará sendo o chefe. Fidel está afastado do poder desde 31 de julho de 2006, quando licenciou-se do cargo por causa de um problema de saúde e passou o poder internamente ao seu irmão.

"Todas as possibilidades são viáveis. Qualquer coisa pode acontecer. Mas no momento, nada de substancial mudou em Cuba", afirmou Orlando Fondevila, cubano que fugiu de seu país há 11 anos. "Certamente é uma boa notícia o fato de não termos mais este homem formalmente comandando o país, mas seu espectro permanecerá enquanto ele estiver vivo." Ele disse que Raúl não fez nenhuma reforma política ou econômica desde que assumiu. "Ele não se converterá num democrata do dia para a noite.

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