Mercosul lança plano contra tráfico de crianças

Montevidéu – Os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) pretendem lançar neste semestre um programa contra o tráfico sexual de crianças e adolescentes a fim de elaborar uma estratégia para enfrentar esse problema. A iniciativa será financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

"O que temos em nossas mãos é nossa infância e adolescência e isso não admite soluções locais, porque são problemas transnacionais que requerem uma abordagem e uma estratégia transnacionais", afirmou à ANSA Luis Albernaz, psicólogo e assessor da presidência do Instituto da Criança e do Adolescente do Uruguai que, paralelamente, lançará este mês um programa oficial contra a exploração infantil.

Com o financiamento do BID, que aprovou uma ajuda técnica de US$ 950 mil, o projeto iniciado em 2006 por especialistas no tema da infância no Mercosul tomará vida neste semestre, disse Albernaz.

Catorze cidades gêmeas do bloco regional, situadas na zona da fronteira (todas limítrofes com o Brasil), serão o eixo do trabalho regional que busca enfrentar o tráfico de crianças e adolescentes com fins sexuais.

As cidades gêmeas são Chuí (Brasil) e Chuy (Uruguay); Santana do Livramento (B) e Rivera (U); Barra do Quaraí (B), Monte Caseros ou Santo Tomé (Argentina) e Bella Unión (U); Uruguaiana (B) e Paso de Los Libres (A); Foz do Iguaçu (B), Cidade do Leste (Paraguai) e Porto Iguaçu (A); Jaguarão (B) e Rio Branco (U).

Nas localidades escolhidas, entre as quais se destaca a Tríplice Fronteira, os povoados são divididos por meras ruas ou pontes.

Em uma primeira etapa, o projeto, que no Uruguai trabalhará sobre quatro cidades com mais de 95 mil crianças, de 0 a 17 anos, busca elaborar um diagnóstico das situações locais, capacitar os operadores e assinar protocolos binacionais.

"A infância e a adolescência no nosso Mercosul está mostrando o caminho, onde nós podemos nos unir e trabalhar, pois não haverá pontes cortadas", disse o especialista referindo-se ao conflito diplomático argentino-uruguaio por causa de uma fábrica de celulose na fronteira, enquanto o subcontinente observa também uma crescente tensão entre Colômbia, Equador e Venezuela.

A campanha regional será em espanhol, português e guarani. Chile e Bolívia, países associados ao Mercosul, manifestaram interesse pelo projeto e a Venezuela, que poderá integrar o grupo, não se pronunciou a respeito.

Paralelamente, o Uruguai lançará este mês seu projeto contra o abuso infantil em uma iniciativa mais ampla do bloco do sul que pretende sensibilizar a população sobre um tema que "não é visível nem está na agenda social ou política do país".

A iniciativa inclui um trabalho com agentes turísticos, agências de transporte aéreo, terrestre e marítimo, assim como a campanha publicitária "Uruguai protege seus meninos e meninas", que busca enviar uma mensagem "tanto àqueles que abusam de crianças e adolescentes como aos adultos por eles responsáveis".;

Mais do que números sobre crianças e adolescentes afetados "temos sensações térmicas" do que acontecem com eles, como  seus trabalhos braçais em plantações de cana-de-açúcar, ou no setor de caminhoneiros e na zona de portos , onde se registra um grande movimento de pessoas, disse Albernaz.

As poucas estatísticas se devem às poucas denúncias, já que "não se vê por parte da população em geral algumas situações como a exploração sexual ou abuso, o que pode explicar uma certa naturalidade de condutas", acrescentou o especialista, o qual acredita que o Uruguai poderá fazer um melhor diagnóstico sobre a infância no país após a decisão parlamentar de tipificar como delito o tráfico de pessoas.

Segundo o especialista, o problema do abuso infantil não é restrito a uma classe social nem é uma questão de gênero.

"Este não é um tema dos pobres, mas do poder do mundo adulto sobre as crianças. Desse ponto, o mundo adulto, em classes altas ou baixas, é idêntico: o adulto exerce esse poder de diferentes maneiras, a violência pode ser física, verbal ou emocional, mas é violência", disse.

"Tampouco é uma questão meramente feminina. Atravessa indistintamente os dois gêneros, e em idades cada vez menores", alertou.

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