Embora não sejam definidos como os melhores amigos do homem, os gatos podem ser tão companheiros, dóceis e fiéis quanto os cães. Eles são considerados ideais para pessoas que buscam um animal de estimação carinhoso, mas que não dispõem de grande período de tempo para ficar em casa, gostam de silêncio e querem um bichinho mais independente, que não necessite de atenção constante.
Segundo cientistas franceses ligados ao Museu Nacional de História Natural de Paris, a domesticação dos gatos é bastante antiga. A constatação é baseada em um estudo arqueológico realizado em 2001, no qual foi encontrado o esqueleto de um gato, enterrado há cerca de 9,5 mil anos, ao lado de um esqueleto humano em escavações realizadas em sítio arqueológico da cidade de Shillourokambos, no Chipre.
A descoberta foi anunciada em 2004, em edição da revista Science, e contesta anúncios anteriores de que os gatos teriam sido domesticados no Egito, há cerca de 4 mil anos. ?O que se sabe dos egípcios é que eles embalsamavam os gatos e os colocavam nas mesmas tumbas utilizadas pelos faraós?, comenta a médica veterinária Marúcia de Andrade Cruz, responsável pela clínica Mania de Gato, em Curitiba. ?No Egito, os gatos eram utilizados para controlar o número de ratos e considerados sagrados por manterem a população saudável?.
Embora, ao contrário dos cães, a maioria dos gatos continue com padrões de corpo semelhantes mesmo quando são realizados diversos cruzamentos entre espécies diferentes, a veterinária diz que é um erro afirmar que todos os gatos são iguais. Apesar de terem aparência bastante semelhante, os indivíduos, dependendo da raça, se diferenciam em tamanho, cor, tipo de pelagem e personalidade. ?Os persas são mais tranqüilos que os siameses. Já os gatos chinchilas (considerados uma variedade dos persas) chegam a pesar 2,5 quilos – enquanto a média de peso dos animais é de 5 quilos – pois houveram diversos cruzamentos entre os menores indivíduos da espécie?, exemplifica.
Escolha
Assim como a escolha de um cão, a de um gato como animal de estimação também requer determinados cuidados especiais. De acordo com Marúcia, o comportamento dos gatos é muito influenciado pela forma como eles são criados e tratados pelas pessoas. Porém, é possível conhecer de forma antecipada um pouco sobre o comportamento do animal através de pesquisas sobre características da raça e observação dos pais do bichano. ?Uma dica é observar a pelagem dos animais. Em geral, os de pêlo longo são mais tranqüilos. Já os de pêlo curto são mais ativos e brincalhões?, diz.
Escolhido o animal, seja ele de raça ou vira-lata, filhote ou já adulto, é indicado levá-lo para um exame geral com médico veterinário. No decorrer da consulta, o profissional poderá orientar sobre vacinação, dar dicas de alimentação e verificar se o bichinho dispõe de boa saúde – não sofrendo de doenças comuns em gatos, como complexo respiratório felino (um tipo de gripe provocada por vírus e bactérias e que pode levar à morte) e dermatofitoses (doenças de pele provocadas por fungos e mais comuns em indivíduos de pêlo longo).
Raças pouco conhecidas no Brasil
Algumas raças de gato, apesar de já bastante populares em países estrangeiros, ainda são quase que desconhecidas dos brasileiros. Muitas foram trazidas nos últimos anos aos País, sendo que as criações nacionais ainda estão em processo de desenvolvimento.
Exemplo disso é o Maine Coon, um animal bastante vendido na Europa e que, de acordo com a criadora Joana Prada, proprietária do Gatil Avalon, em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, é originário de Maine, nos Estados Unidos. ?O Maine Coon é considerado o maior gato doméstico existente, sendo que um macho pode chegar a pesar entre 10 e 15 quilos?, conta. ?Esse felino tem pêlo semilongo, rabo bem peludo e focinho alongado. É dócil e bastante brincalhão, podendo custar R$ 1,5 mil quando tem pedigree?.
Bengal
O Bengal é um gatinho que descende do selvagem Leopardo Asiático (Felis prionailurus bengalensis) e que começa a ser cada vez mais apreciado no Brasil. O instrutor de vôo Werner Egon Schrappe é proprietário de dois machos e de uma fêmea, todos com quatro anos de idade, e garante que eles são ótimos animais de estimação, apesar de ainda manterem algumas características de seus ancestrais selvagens. ?Eles são bastante ativos e adoram caçar no jardim. Às vezes aparecem carregando na boca um rato ou um passarinho. Porém, são excelentes companheiros e se adaptam bem ao ambiente doméstico?, conta. ?Conheci a raça através de revistas especializadas. Em 1997, trouxe uma fêmea dos Estados Unidos e comprei um macho no Rio de Janeiro. Hoje, mantenho em casa os filhotes do casal?.
Os pêlos dos bengals são dourados com manchas, o que na natureza seria utilizado como camuflagem. Nos Estados Unidos, o bichano custa cerca de US$ 1,5 mil.
Sphynx
Um gato que gera bastante curiosidade é o Sphynx. Em feiras e exposições, o animal costuma chamar bastante a atenção por ter aparência pelada. ?Ele tem pêlos bem fininhos, ralos e curtos ao longo do corpo, que são quase desapercebidos?, informa Joana. ?O animal é originário do Canadá e nasceu do cruzamento entre indivíduos pelados, surgidos após mutações espontâneas verificadas em alguns gatos de rua?.
Os cruzamentos acabaram resultando na criação da raça, considerada ágil e interativa tanto com outros animais quanto com seres humanos. ?Um gato sphynx costuma comer bem mais do que um gato normal. Isto porque, para não sentir frio devido à falta da pelagem, ele tem o metabolismo mais acelerado?. Os filhotes costumam custar cerca de R$ 1,5 mil.
Cornish Rex
Esse gato, originário da Inglaterra, é um dos únicos a ter pêlos ondulados, que muitas vezes são comparados a de um cão da raça poodle. Porém, ao contrário dos pêlos dos cachorros, eles não costumam embaraçar e não necessitam de cuidados especiais, pois são baixos. Ativos e carinhosos, costumam custar R$ 900. (CV)
Paraná tem quarenta criadores
No Paraná, existem cerca de quarenta criadores de gatos, que trabalham com animais de dez variedades diferentes. A informação é do Clube do Gato, entidade fundada no ano 2000 e que trabalha com o fornecimento de pedigrees e realização de exposições.
Assim como os cães, os gatos também costumam ser bastante valorizados devido a suas características físicas. Filhotes de animais premiados em exposições estaduais, interestaduais e mesmo internacionais chegam a valer R$ 1,5 mil. ?As preparações geralmente começam seis meses antes das exibições e envolvem tratamento da pelagem e fornecimento de ração especial. Tudo é feito de acordo com o padrão de cada raça?, informa a presidente do clube, Vera Gabardo.
Em Curitiba, acontece uma única exposição anual, geralmente realizada no mês de agosto. Do evento participam gatos vindo de todos os estados brasileiros e mesmo de países estrangeiros. A maioria tem pedigree. O pedigree é passado de pais para filhotes. Gatos que não o possuem podem tentar consegui-los com juízes de exposições, que fornecem um registro inicial. (CV)
Gato não provoca alergia
Muita gente, mesmo gostando de gatos, deixa de ter o animal por acreditar que ele provoca alergia respiratória. A crença, conforme informações da veterinária Marúcia de Andrade Cruz, é falsa.
?O gato não provoca alergia. Ele só é prejudicial a pessoas que já são alérgicas a ele?, comenta. ?Outro erro comum é acreditar que as pessoas são alérgicas ao pêlo do animal. Na verdade, elas são alérgicas à saliva que ele deposita nos pêlos ao se lamber?.
Ela explica que muitos felinos possuem problemas respiratórios, como asma. Porém, a enfermidade não é transmitida aos seres humanos. ?Os gatos só não devem ser adquiridos por pessoas que possuem alergia específica a eles?. (CV)
Geram despesas e ocupam tempo
Embora sejam mais independentes e não sofram tanto quanto os cães devido à ausência dos donos, os gatos também necessitam de cuidados e carinho. Como todo animal, eles precisam ter suas necessidades básicas satisfeitas, gerando despesas financeiras e ocupando parte do tempo dos proprietários.
?Os gatos geralmente são mais dorminhocos que os cães e não se importam se tiverem que ficar sozinhos por alguns dias. Eles são bastante higiênicos, aprendendo praticamente sozinhos a se limpar e a utilizar a caixinha de areia para fazer suas necessidades. Porém, não basta adquiri-los e largá-los à própria sorte?, explica a veterinária Marúcia.
Vacinação
O primeiro cuidado diz respeito à vacinação. Os gatinhos precisam tomar uma dose da vacina tríplice, quadrúpla ou quíntupla aos sessenta dias de vida e outra trinta dias depois. Aos 120 dias, é necessário fornecer vacina contra raiva. A imunização deve ser repetida anualmente. Em relação a vermífugo, gatos de apartamento devem receber o produto duas vezes ao ano. Já os que vivem em casa e ficam soltos no quintal, com acesso à rua, devem receber três.
Alimentação
A alimentação dos felinos deve ter como base ração seca. O alimento, independente da marca, deve ser especial para gatos, pois os bichanos necessitam um aminoácido (taurina) que geralmente não é encontrado nas rações de cães e que protege a saúde dos olhos e do coração dos animais. Ao contrário do que muita gente pensa, leite não deve ser fornecido, ?pois a maioria dos gatos têm intolerância à lactose?. Para que eles possam matar a sede, é indicado deixar um pote com água fresca à vontade.
Banho
Os gatos não precisam de tantos banhos quanto os cães, pois cuidam da própria higienização lambendo os pêlos. Porém, é indicado lavá-los com água e shampoo especial a cada sessenta dias. Animais de pêlo longo necessitam de tosa periódica. A cada 45 dias, é preciso fazer pelo menos a tosa higiênica e tosa da parte inferior das patas, para que eles não fiquem escorregando nos pisos.
Outros animais
Normalmente, os gatos costumam conviver bem com outros bichos, inclusive com cães. Para que não hajam brigas e disputas por espaço e atenção, é indicado que os bichanos aprendam a conviver com outros animais desde bem pequenos. Como geralmente são bastante curiosos e possuem instinto de caça, os proprietários devem ter cuidado apenas para que eles não tenham acesso a peixinhos de aquário e passarinhos. (CV)