Ex-mordomo do papa se declara inocente da acusação de roubo

O ex-mordomo do papa, Paolo Gabriele, se declarou “inocente” da acusação de roubo com agravante de documentos reservados do pontífice, mas se declarou “culpado por ter traído a confiança” de Bento XVI.

Gabriele, de 46 anos, foi interrogado nesta terça-feira na segunda audiência do julgamento contra ele no Vaticano, na qual também falou o secretário particular de Bento XVI, George Gänswein, que disse que nunca suspeitou do mordomo até ver publicado em maio no livro “Sua Santità” documentos que nunca tinham saído de seu escritório.

“Da acusação de roubo com agravantes me declaro inocente, embora me sinta culpado por ter traído a confiança que o Santo Padre tinha em mim”, afirmou Gabriele, justificando sua ação porque o papa precisava saber o que ocorria no Vaticano.

Durante a audiência, o promotor de Justiça do Vaticano, Nicola Piccardi, anunciou, por ordem do presidente do tribunal, Giuseppe della Torre, uma investigação para analisar as condições carcerárias do detido, já que o acusado assegura que passou o primeiro dia em uma cela que não possuía as condições necessárias.

Também declarou que sofreu pressões psicológicas, já que – segundo o próprio – durante a primeira noite lhe impediram de usar o travesseiro e que durante 20 dias a luz permaneceu acesa 24 horas do dia.

Na audiência de hoje, que durou três horas, foi interrogada também Cristina Cernetti, uma das laicas que fazem parte da chamada “Família Pontifícia”, que cuida do apartamento papal, e os policiais Gianluca Gauzzi Brocoletti, Giuseppe Pesce e Costanzo Alessandrini, que participaram da batida no domicílio de Gabriele e de sua posterior detenção.

No domicílio foram encontrados milhares de documentos, muitos deles originais, procedentes do escritório do secretário do papa, assim como o cheque no valor de 100 mil euros doado ao papa pela Universidade Católica de Múrcia (Espanha), uma suposta semente de ouro e um exemplar da Eneida de 1512, que Gabriele insistiu que não sabia como tinham sido colocadas em sua casa.

Gabriele alegou que recolhia documentos do escritório do secretário do papa e tirava cópias, mas que sua intenção em princípio não era a de vazá-los para que fossem publicados em um livro, como no final ocorreu.

“Não era tão iludido como para não saber que pagaria as consequências, mas não me considero o único que passou documentos (sobre o Vaticano) à imprensa”, respondeu ao promotor.

O ex-mordomo insistiu que não recebeu dinheiro algum para passar os documentos e insistiu que não teve cúmplices. “É difícil encontrar uma razão para um fato irracional como esse”, concluiu.

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