Estresse animal pode matar

Os cães e gatos não trabalham, não estudam, não enfrentam trânsito, não têm contas para pagar, nem uma série de outros aborrecimentos e preocupações comuns aos seres humanos. Mesmo assim, são altamente suscetíveis ao estresse, doença caracterizada pela perda do equilíbrio orgânico e que gera uma série de sintomas e conseqüências negativas para o corpo. Nos animais, o problema ocorre principalmente quando eles são retirados de sua rotina normal, como em épocas de festas de final de ano e Carnaval.

?Entre 30% e 40% dos atendimentos realizados por clínicas e consultórios veterinários em dias pós-festivos têm alguma relação com mudanças emocionais sofridas pelos pacientes. Os cães e gatos sofrem muito mais estresse que os seres humanos, podendo morrer em função disso?, comenta o médico veterinário da Clínica Paranaense de Medicina Veterinária, localizada em Curitiba, Wagner Luiz Bueno, que também é delegado do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR) e integrante da Sociedade Americana de Veterinária.

Na natureza, os animais são vítimas do chamado estresse de captura, que ocorre quando eles são capturados por predadores e os impede de sentir dor quando, por exemplo, são devorados ainda vivos. Já em ambiente doméstico, ocorre o estresse de contenção, detectado em diversas situações, como quando o bichinho é levado para uma consulta veterinária ou mesmo para uma sessão de banho e tosa com pessoas estranhas.

No dia-a-dia, os representantes dos mundos canino e felino podem ficar tensos em função, além das festividades e das visitas ao veterinário, da ausência de um ente querido, de mudanças de ambiente (como no caso de viagens), de casos de brigas ou doenças na família, calor, fogos de artifício, entre outras situações. Os cachorros e gatos também são capazes de sentir que as pessoas estão nervosas e se afetarem por isso, também se tornando nervosos.

Bueno diz que cães e gatos
sofrem mais do que humanos.

?Os animais percebem a agitação dos donos e ficam em estado de alerta. Eles identificam alterações mínimas nas pessoas que geralmente elas próprias não são capazes de identificar, como mudanças de cheiro, alterações na respiração e na pressão. Prova disso é que existem relatos de casos de cães que perceberam que seus proprietários estavam enfartados mesmo antes destes realmente enfartarem?, afirma Wágner.

O estresse faz com que a resistência do organismo se torne baixa e pode ter como conseqüências: infecção de pele, diarréia, vômito, infecções urinárias, tremores, convulsões, agressividade, micções indesejadas, apatia, salivação excessiva e falta de apetite. O problema é diagnosticado pelo histórico do paciente ou por diagnóstico diferencial (quando outras possibilidades de enfermidades são eliminadas). O tratamento envolve o uso de ansiolíticos e tranqüilizantes ou mesmo trabalhos de dessensibilização (quando um adestrador ou mesmo veterinário mostra ao animal que ele não precisa sentir tanto medo de determinada coisa).

Alimentação errada causa o problema

Outro fator que pode gerar estresse em cães e felinos é a alteração alimentar. Em períodos festivos, algumas pessoas acabam saindo da rotina no que diz respeito ao preparo de almoços e jantares. Muitas vezes, essas mudanças são transferidas aos hábitos alimentares dos animais de estimação, que passam a ganhar uma maior quantidade de petiscos e outros alimentos que não lhes são considerados próprios.

?Cães e gatos não podem ser humanizados na parte fisiológica. O animal não pode comer o que o dono come. Por mais que ele viva com um ser humano, ele tem a fisiologia de um animal e não a de uma pessoa. Por isso, frutas, verduras, biscoitos, chocolates e outros alimentos próprios dos donos são proibidos. Cães e gatos devem comer apenas ração?, diz o veterinário Wagner.

Uma mudança brusca na alimentação de um bicho doméstico provoca estresse porque as bactérias que vivem no intestino deles não estão acostumadas ao novo substrato. ?Muita gente deve se perguntar por que os cães de rua comem de tudo e não ficam doentes. Isto acontece porque os cachorros que vivem nas ruas são selecionados geneticamente.?

Além de estresse, mudanças alimentares podem resultar em vômito e diarréia. Algumas comidas são consideradas verdadeiros venenos aos bichos. É o caso do chocolate, que é considerado tóxico aos cães por conter uma substância denominada teobromina, existente no cacau. Outra coisa repugnante ao paladar dos bichos é o álcool.

Hidratação

Ainda para garantir o bem-estar de cães e gatos em qualquer período do ano, é preciso cuidar para que eles estejam sempre muito bem hidratados. Por isso, seja em dias comuns ou em dias festivos, eles devem ter água à vontade e permanecer em locais frescos, sendo que são pouco tolerantes ao calor. (CV)

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