Escalada da inflação ameaça popularidade de Cristina Kirchner

A presidente Cristina Fernández de Kirchner completou nesta quarta-feira 100 dias no poder. Mas a celebração por parte do governo foi relativa, pois a efeméride foi acompanhada de considerável preocupação no palácio presidencial, já que "CFK" – tal como é chamada – está enfrentando uma queda de 7% em sua imagem positiva. Além disso, está em confronto aberto com os produtores agropecuários, que – pela primeira vez na história da Argentina – estão realizando uma greve geral que inclui piquetes nas estradas, pontes e túneis.

Segundo uma pesquisa da consultoria Poliarquía a imagem da presidente mostra uma queda significativa. Passou de 51% em dezembro (quando tomou posse), para 56% em janeiro e 54% em fevereiro. Mas caiu para 47% em março.

Alejandro Catteberg, da Poliarquía, afirma que a queda foi provocada, em grande parte, pela escalada da inflação que Cristina – embora insista em minimizar – não consegue deter. Segundo Catteberg, 83% da população acreditam que os preços continuarão subindo nos próximos meses, a maior marca desde maio de 2002, quando o país estava mergulhado na pior crise econômica de sua história.

Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), a inflação do primeiro bimestre foi de 1,4%. Mas economistas independentes, empresários e associações de consumidores afirmam que foi substancialmente superior ao índice "oficial". Segundo a consultoria Ecolatina, a inflação "real" teria sido de 3,5%. O governo prevê que neste ano a inflação não passará de 10%. Já os economistas projetam que será superior a 25%.

"Cristina Kirchner continua sendo uma das figuras políticas mais populares da Argentina. A inflação, no entanto, mais do que qualquer outro problema, tem a capacidade de diluir rapidamente essa situação", afirma Catteberg.

A celebração dos 100 dias também foi eclipsada pela greve geral dos produtores agropecuários, que – pela primeira vez na história do país – reúne todas as associações do setor. Os grevistas, que protestam contra os pesados tributos que o governo lhes aplica, estão em greve há oito dias. Nesta quarta (19), os produtores anunciaram que prolongarão a paralisação até sexta-feira da semana que vem.

Nas relações internacionais, Cristina não consegue reverter o isolamento do país provocado por seu marido e antecessor, o ex-presidente Néstor Kirchner. Os analistas indicam que na recente visita da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice à região (na qual não incluiu a Argentina) – ficou claro que Buenos Aires não é mais um ponto de interesse do governo americano. A maioria dos líderes europeus também ignorou o país em suas visitas à América do Sul em 2007. A agenda para 2008 indica um cenário similar. As tentativas de Cristina para reatar o bom relacionamento com o Vaticano também foram à pique.

Na região, sua imagem tampouco desfruta de boa saúde, principalmente após a participação de seu marido na frustrada tentativa de liberar os reféns das Farc no Natal. Durante a recente crise diplomática entre a Colômbia, Equador e Venezuela, Cristina também foi criticada por não ter dissimulado sua adesão ao presidente venezuelano Hugo Chávez e ao equatoriano Rafael Correa.

Nestes 100 dias Cristina também teve que viver à sombra de seu marido, que deixou o poder com 60% de aprovação, ou seja, superior à popularidade da nova presidente. Para complicar, paira sobre sua administração a imagem de uma presidência "bicéfala", já que analistas e a população consideram que Kirchner é quem dá as ordens no governo.

Na tentativa de ajudar a esposa a encontrar uma marca própria a imprimir em sua administração, segundo os cientistas políticos, Kirchner passou a ter um perfil um pouco mais baixo nas últimas semanas.

Mas, no meio desta estratégia de low profile, na semana passada, o governador de Santa Cruz (feudo político dos Kirchners), Daniel Peralta, declarou que os US$ 500 milhões que Kirchner – quando era governador há 15 anos – havia enviado ao exterior (para protegê-lo das turbulências financeiras argentinas, segundo argumento oficial) nunca haviam voltado ao país. Essa afirmação contradizia as declarações de Kirchner no ano passado, nas quais jurava que os fundos já haviam voltado à Argentina. A oposição considera que os Kirchner usaram esse dinheiro de forma irregular nas campanhas políticas.

Cristina é famosa entre os argentinos por sua intensa vaidade. Aos 55 anos, se esforça diariamente em manter uma figura esbelta e exibe uma alta rotatividade de seus vestidos. A imagem de uma presidente preocupada por seu look também ficou notória no exterior. O jornal britânico "The Guardian" – depois de ressaltar que Cristina é conhecida como a ‘Rainha do Botox" (por seu suposto uso dessa substância para dissimular a passagem dos anos) – indicou que ela é uma das 10 líderes mais "fashion" e super-produzidas do planeta.

Entre os top ten do "bling" (expressão para designar a ostentação por meio do figurino e assessórios) político mundial também estão o presidente francês Nicolas Sarkozy e o presidente russo eleito Dimitri Medvedev. Segundo "The Guardian", Cristina chama a atenção "tanto por sua aparência como por suas políticas".

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