Entre os menores e mais belos do mundo

Com a imensa quantidade de plantas que florescem na primavera, basta dar um passeio por jardins e praças para encontrar um dos pássaros mais interessantes da natureza, o beija-flor (também chamado de colibri). Inspiração de músicos e poetas, além de símbolo da nota de R$ 1, a ave está entre as menores do mundo, surpreendendo por suas características fisiológicas e de comportamento.

Exclusivos das Américas, os beija-flores costumam se adaptar bem a todos os climas, vivendo nas montanhas frias do Alasca e também nas florestas tropicais do hemisfério Sul. Segundo o biólogo e professor de Ecologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Eduardo Carrano, que é especialista em ornitologia, existem cerca de trezentas espécies de beija-flor, dos quais 82 podem ser encontradas no Brasil. ?Dessas, doze são exclusivas do País?. Existem espécies cujos indivíduos pesam apenas 1,5 grama e outras que chegam a pesar mais de dez gramas. ?Podem ser encontrados beija-flores de diversas cores, como azul, verde, branco, vermelho e dourado. Quando as pessoas os admiram, dependendo da incidência do ângulo de luz, têm a impressão que mudam de cor. Muitas vezes, dá a impressão que eles chegam a brilhar?, comenta.

Já as asas das aves muitas vezes dão a impressão de ser invisíveis. Os beija-flores as batem tão rapidamente – cerca de oitenta vezes por segundo e mais de um milhão de vezes sem parar, de acordo com o livro Segredos do Mundo Animal – Surpreendentes Aventuras da Vida Selvagem, uma publicação de Reader?Digest – que os movimentos são quase imperceptíveis aos olhos humanos. ?Ao contrário de outras aves, eles batem as asas fazendo o movimento de um oito. São capazes de parar no ar, voar para a frente e para trás, fazendo verdadeiros malabarismos aéreos?.

Embora pareçam frágeis, os pássaros têm músculos bastante poderosos e corpo flexível. Para conseguirem fazer movimentos tão rápidos e manter um coração que chega a bater mil vezes por minuto, eles precisam de muito açúcar, que retirado das plantas, funcionam como um verdadeiro combustível. Os beija-flores visitam diversas flores ao dia e delas recolhem o néctar. Quando têm filhotes, armazenam a substância no papo e depois a regurgitam na garganta dos mesmos.

Para obter o alimento das flores, os pássaros têm bicos longos, que podem ser tanto retos quanto curvos, dependendo da espécie. A língua dos animais tem a extremidade dividida em duas partes e é oca por dentro, funcionando como um canudo. Com o objetivo de obter proteínas, os beija-flores também se alimentam de pequenos insetos, não dispensando o açúcar encontrado em frutas suculentas. Nas cidades, costumam aceitar a água colocada pelas pessoas em garrafas especialmente confeccionadas para atraí-los.

Os ninhos da ave, embora pequenos, são considerados resistentes à chuva, ao vento e ao próprio crescimento dos filhotes. Eles geralmente são construídos pelas fêmeas com grama, folhas, flores, pétalas, musgo e fios de teias de aranha (que, por serem viscosos, servem como fixador). Na maioria das vezes, as aves colocam apenas dois ovos, cujo tamanho é um pouco superior a um grão de ervilha. Com apenas algumas semanas de vida, os filhotes se tornam capazes de deixar o ninho, voar e obter alimentos sozinhos. 

Animais dóceis e de bom convívio com os humanos

Os beija-flores são animais dóceis e que convivem bem com os seres humanos. Em muitos locais, é possível vê-los voando ou parados em flores localizadas bem perto das casas das pessoas.

Para atraí-los e desfrutar de sua presença em quintais e jardins, é indicado cultivar algumas plantas que costumam chamar a atenção dos pássaros. Entre elas: lágrima de cristo vermelha, malvaviscus, camarão, heliconia, esponjinha e ingás. Laranjeiras e eucaliptos também são eficientes.

Outra alternativa é utilizar garrafinhas especiais com água açucarada ou simplesmente água filtrada. Porém, deve-se tomar o cuidado de trocar o líquido e lavar a garrafinha todos os dias para que os beija-flores não fiquem doentes. A sujeira acumulada dentro dos recipientes acaba propiciando o desenvolvimento de fungos que podem matar as aves.

Se na região houverem muitos beija-flores, é preciso colocar várias garrafinhas. Bastante territorialistas, os pássaros podem começar a brigar pelas garrafas, sendo que os ferimentos recebidos também podem levá-los à morte. Os bebedouros devem ser deixados na sombra e sempre retirados quando os donos da casa viajarem e não puderem deixar uma pessoa responsável pela troca da água. (CV)

Parque em Foz do Iguaçu os preserva

O Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, na região oeste do Estado, mantém em seu interior um viveiro de beija-flores. No local, foram plantadas algumas espécies de plantas consideradas atrativas, como heliconias, caliandra, grevilha e camarão amarelo.

?É um recinto aberto, onde as aves costumam ficar e encontrar alimento, mas podem sair quando desejar?, explica o médico veterinário do parque, Mathias Dislich. No local, é possível visualizar várias espécies, entre elas o beija-flor de banda branca, o rabo branco de garganta rajada, o preto, o besourinho de bico vermelho, o tesoura de fronte violeta e o dourado.

Muitos dos indivíduos que freqüentam o viveiro foram encontrados machucados ou com a saúde bastante debilitada devido à queda do ninho. ?Na maioria das vezes, esses beija-flores são trazidos até nós desidratados. Então, os alimentamos e, quando necessário, os mantemos em cativeiro por um ou dois dias para que eles possam se recuperar?.

O parque mantém mais de novecentas aves de 150 espécies diferentes, sendo a maioria brasileira. Um terço delas é considerado em risco de extinção. Localizado no quilômetro 17,1 da Avenida das Cataratas, o parque abre todos os dias, das 8h30 às 17h. A entrada custa R$ 16 para brasileiros e US$ 8 para estrangeiros. (CV)

Algumas espécies dessas aves estão em extinção

Assim como a maioria dos animais silvestres, os beija-flores são vítimas do tráfico ilegal de animais, que acaba resultando na extinção de algumas espécies. Na maioria das vezes, as aves são levadas vivas para países da Europa e dos Estados Unidos, onde têm como destino final viveiros mantidos por colecionadores.

?Existem relatos de casos de traficantes que levaram os beija-flores costurados dentro das roupas em viagens aéreas. Para que os pássaros sobrevivessem, eles os alimentavam às escondidas durante o vôo?, afirma Eduardo Carrano. Outras vezes, os pássaros são mortos e têm a pele retirada. O material acaba sendo exposto em museu ou utilizado na confecção de adornos e vestimentas. ?No começo do século passado, Londres, na Inglaterra, chegou a importar 400 mil peles de beija-flores. O Brasil, junto com a Colômbia, é tido como um dos principais países fornecedores?.

Extinção

Assim como o tráfico, a degradação ambiental é um dos principais fatores responsáveis pela extinção de algumas espécies de beija-flores. Fora de seu habitat natural, as aves não conseguem se reproduzir e acabam tornando-se raras. No Brasil, existe uma espécie que se encontra no grau máximo de ameaça de extinção: o Glaucis dohrnii, popularmente conhecido como beija-flor canela e considerado por especialistas como o mais raro dos colibris da Mata Altântica.

O animal está restrito ao norte do Espírito Santo e ao sul da Bahia, mas dificilmente é encontrado. Tem doze centímetros de comprimento, o bico quase reto e a mandíbula esbranquiçada. Suas penas são de um bronze metálico, com pontas brancas nas asas. (CV)

Na natureza, os beija-flores realizam um importante papel: o de polinizadores de plantas. Só no Sul do Brasil, são cerca de duzentas espécies polinizadas por eles. Entre elas, as bromélias. ?Muitas das plantas são ornamentais?, complementa Eduardo Carrano.

O processo de polinização acontece quando, ao sorver o néctar, os pássaros deslocam o pólen do órgão masculino ao órgão feminino das flores, fecundando-as. Outras vezes, o pólen adere ao bico e à face das aves, sendo que estas o levam de uma planta a outra. ?Dessa forma, os beija-flores mantêm simbiose (associação entre dois seres vivos na qual ambos recebem benefícios, mesmo que em proporções diferentes) com as plantas?. (CV)

Pássaros agem como grandes polinizadores

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