Ensino superior ao alcance de todos

A educação a distância vem crescendo muito, facilitando o acesso ao ensino superior de pessoas que moram nos mais remotos cantos do Brasil. Em 2000 havia 13 cursos registrados no Ministério da Educação (MEC), número que passou para 382 em 2004. O número de matrículas também cresceu significativamente, subindo de 1.758 para 159.366 no mesmo período. São os dados mais atualizados da Associação Brasileira de Educação a Distância.

Segundo o secretário de Educação a Distância do MEC, Ronaldo Mota, esta modalidade de ensino vem dando certo no País devido à facilidade que o brasileiro tem para lidar com a tecnologia. As urnas eletrônicas usadas nas eleições são um exemplo. “Mesmo as pessoas mais simples conseguem usar o sistema”.

No entanto, até agora as instituições de ensino não vinham aproveitando estes recursos. Para Mota, a educação a distância vem para revolucionar o ensino. Ela atinge principalmente as camadas mais pobres da população e as que moram em regiões remotas, uma vez que as universidades e faculdades estão localizadas principalmente nos grandes centros urbanos e próximas ao litoral. “Os cursos a distância vieram para democratizar o ensino”, avalia.

Se o número de alunos deu um salto em apenas quatro anos, Mota diz que devem crescer ainda mais. O único fator limitante será a qualidade dos cursos, já que quem não tiver estrutura para fornecer um ensino que prepare bem os alunos será descredenciado pelo MEC. Segundo ele, no fim de 2005 foi publicado um decreto com critérios rígidos, garantindo referenciais mínimos de qualidade.

O secretário diz que o ensino oferecido no País é de qualidade e forma profissionais mais autônomos. O estudante tem uma visão integrada das mídias porque utiliza TV, rádio, DVD, computadores, entre outros recursos. “A metodologia estimula a aprender”, frisa. Cerca de dez países – na América Latina, Europa, Ásia e África – já adotaram o modelo brasileiro de ensino a distância.

O diretor do departamento de Tecnologia e Difusão Educacional da Prefeitura de Curitiba, Ricardo Antunes de Sá – que também trabalhou na implantação do curso de pedagogia a distância da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2000 – concorda. Diz que na Europa a modalidade de ensino é muito comum e respeitada e o Brasil vem conseguindo bons resultados, formando profissionais de qualidade.

Ele explica que, para um curso funcionar, precisa ter um projeto pedagógico, material didático adequado, como CD-Room e materiais impressos, além de um tutor para tirar as dúvidas dos alunos e parte das aulas são presenciais. Quem quiser fazer um desses cursos precisa observar esses itens e ainda verificar se a instituição tem autorização do MEC para funcionar.

Mas não é só o curso que conta no ensino a distância. O perfil do aluno também é diferente, pois precisa ter autonomia. “A educação a distância não é fácil. Exige mais do aluno do que o curso presencial. Ele estuda sozinho, mediante material didático por apostilas e tira a dúvida com os tutores”, aponta.

Ricardo comenta também que o ensino a distância vem sendo usado por empresas para qualificar os funcionários. A Prefeitura de Curitiba é um exemplo. Em 2004, a tecnologia foi usada para capacitar educadores de creches. “As pessoas gostaram e disseram que realmente aprenderam”. Outro bom motivo para os cursos à distância é o baixo custo. “Você reúne até mil pessoas num mesmo espaço”, exemplifica.

Igreja Católica faz convênio para capacitar 5 mil

A Igreja Católica também resolveu apostar na educação a distância e fez um convênio com o Banco do Brasil e a Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) para capacitar cinco mil pessoas este ano no Estado. Segundo o padre Carlos Alberto Chiquim, secretário-executivo da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Sul II, o objetivo é tentar melhorar a condição de vida e também diminuir o êxodo rural.

O projeto piloto está sendo implantado no Paraná e a idéia é expandir a rede para todo o País. Neste início de semestre, 20 telessalas – instaladas nos telecentros criados pelo Banco do Brasil – vão estar com as portas abertas em 18 cidades do Estado, entre elas Mandirituba, Antonina, Cascavel e Ribeirão do Pinhal. O padre explica que esses municípios foram escolhidos porque possuem um baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em julho serão 50 telessalas, contemplando cinco mil pessoas.

As vagas são destinadas a pessoas pobres desses municípios. “Muitos não têm condições de se deslocar a um grande centro para fazer uma faculdade. Não têm como se manter”, diz o padre. As mensalidades variam entre R$ 170,00 e R$ 220,00. A Igreja vai tentar conseguir bolsas com a própria faculdade e com empresários. Quem ganha até umsalário mínimo e meio ganha bolsa integral e quem recebe até três salários mínimos tem bolsa parcial. Serão oferecidos sete cursos: normal superior, secretariado executivo, comércio exterior, marketing e propaganda, gestão em serviços públicos, vendas e varejo, gestão de negócios de pequeno e médio porte. “Temos que superar a miséria e a fome na sua raiz. Só vamos mudar o Brasil quando dermos acesso à educação aos jovens”, considera.

A Igreja também vai usar o ensino a distância para capacitar os agentes de pastorais, aprimorando a formação religiosa. Além disso, serão oferecidos cursos de artesanato e hortas comunitárias, entre outros. Estão previstas a implantação de 800 telessalas em todo o País e 160 mil vagas englobando ensino superior e cursos livres. (EW)

PUC já criou mais de 60 mil salas virtuais de estudo

A Universidade Católica do Paraná (PUC) também investe nesta modalidade de ensino. A diretora da área, Patrícia Lupion Torres, explica que a instituição trabalha com ambiente virtual, chamado de Eureka, desde 1997. Era usado para dar suporte aos alunos dos cursos presenciais. Entre as várias finalidades, os alunos podiam revisar em casa toda a matéria dada pelo professor em sala. Até hoje mais de 60 mil salas virtuais de estudo já foram criadas.

O primeiro curso a distância foi um MBA e depois vieram as especializações. Hoje são oito, totalizando 480 alunos. Segundo Patrícia, a instituição resolveu investir nesta modalidade porque pode levar a educação a qualquer lugar, independente da região onde o aluno se encontra. Hoje não precisa mais sair da própria cidade, gastar com alimentação e hospedagem ou abandonar o emprego para estudar.

A professora também destaca a qualidade desses cursos. Segundo ela, não é a modalidade de ensino que faz um bom curso, mas a estruturação. Há cursos presenciais de instituições sérias e o mesmo ocorre com os cursos a distância. Ela diz que ainda existe um preconceito muito grande porque até pouco tempo esse tipo de ensino não figurava na educação formal e sim na formação técnica. “Significava que a pessoa estava excluída do processo formal”, lembra.

Além das especializações e do MBA, a instituição está formulando um projeto para criar cursos de graduação e o primeiro será de administração. Apesar do sucesso dos cursos a distância, Patrícia não acha que um dia eles substituam os presenciais. “Não é um curso que veio para substituir. É um complemento”. O ensino superior presencial conta com 4.163.733 alunos.

O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) também está com dois cursos de pós-graduação abertos. O de especialização em educação ambiental e gestão em educação a distância. Segundo a coordenadora Denyze C.L. Rucke, as duas especializações pertencem à rede nacional do Senac e têm credenciamento junto ao MEC desde 2004, com conceito A. “Existe uma tendência mundial para a implantação destes cursos”, observa. A carga horária no Senac é de 360 horas, com, no mínimo, três encontros presenciais. (EW)

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