Em memórias, Blair diz que previu ‘desastre’ de Brown

O ex-premiê britânico Tony Blair disse em suas memórias lançadas hoje ter previsto que seu sucessor, Gordon Brown, seria um “desastre” no posto. Blair afirmou que seu companheiro de Partido Trabalhista é um homem difícil e exasperante, mas carente de inteligência emocional.

Nas memórias, intituladas “A Journey” (Uma jornada), Blair diz não se arrepender da guerra no Iraque, mas garante ter chorado por suas vítimas. O ex-líder diz acreditar que agiu certo participando da invasão no país, mesmo que o argumento dado para fazê-lo – a existência de armas de destruição em massa – não tenha se mostrado verdadeiro.

Segundo Blair, a invasão se justifica porque foi derrubado o ditador Saddam Hussein. A decisão de ir à guerra foi a mais controversa do governo Blair. “Com base no que sabemos agora, eu ainda acredito que deixar Saddam no poder era um risco maior para nossa segurança”. Além disso, notou que a manutenção do ditador no poder poderia ter sido “muito pior”. “Eu não posso me arrepender da decisão de ir à guerra”.

Sobre o ex-presidente dos EUA George W. Bush, Blair qualificou-o como inteligente, “um verdadeiro idealista” e homem íntegro. As livrarias britânicas estão registrando boas vendas do livro, pelo qual Blair teria recebido 4,6 milhões de libras (US$ 7,5 milhões). Ele está doando o lucro com a obra para uma entidade que auxilia soldados feridos.

Dimensão humana

O livro está sendo publicado em 12 países e também em uma versão digital, além de uma em áudio lida pelo próprio Blair. Hoje, em Washington, Blair disse que tentou escrever sobre as dimensões humanas, e não só políticas, da vida de um primeiro-ministro.

Blair chegou ao cargo em 1997, em meio a uma onda de entusiasmo na Grã-Bretanha em torno de sua figura. Ao deixar o poder, uma década depois, era apontado como um vilão por alguns, por levar o país à guerra no Iraque. Grupos contra a guerra prometeram boicotar sessões de autógrafos de Blair no próximo sábado, em Dublin, e no dia 8, em Londres.

O ex-primeiro-ministro, de 57 anos, renunciou em junho de 2007, após uma década que incluiu um acordo de paz com a Irlanda do Norte, a impopular guerra no Iraque e o conflito no Afeganistão. Ele foi o mais bem-sucedido líder trabalhista em décadas, movendo o partido para o centro e conseguindo o poder após 18 anos de oposição. Mas, ao deixar o poder, a sigla estava dividida. O Partido Trabalhista perdeu as eleições de maio.

Rainha

Blair também trata no livro de sua relação com a rainha Elizabeth II após a morte da princesa Diana, em 1997, quando o apoio dos britânicos à monarquia estava em baixa. Blair afirma que trabalhou para convencer a rainha a fazer um pronunciamento público e temia que ela o achasse “presunçoso”. De sua parte, ele disse que ela era “um pouco arrogante”.

Em outro trecho, Blair comenta ainda sua relação com o álcool. Ele diz que bebia uma dose de gim ou whisky antes do jantar, e “um par de taças de vinho ou mesmo meia garrafa” durante a refeição da noite. Blair escreveu que acreditava controlar o consumo de álcool, mas estava ciente de que beber havia se tornado “um apoio”.

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