Cuba ainda espera abertura de Raúl Castro

Apesar das expectativas criadas após a ascensão ao poder do presidente Raúl Castro, em 2007, pouca coisa mudou em Cuba. Na semana passada, a organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch publicou um relatório denunciando que o regime cubano criou leis que permitem ao Estado prender suspeitos antes mesmo que cometam crimes – a acusação é que eles estariam “planejando atividades ilícitas”. Em dois anos, 40 pessoas foram detidas nessas condições, segundo a ONG. Outras 53 ainda estão presas desde 2003 por organizar um protesto contra Fidel Castro.

No jornal oficial do governo, o “Granma”, as autoridades rejeitaram o conteúdo do relatório. No Ministério das Relações Exteriores, diplomatas explicaram que “existem diferentes visões do que é uma democracia”. Eles alegam que não se trata de detenção de opositores, mas de pessoas que seriam “equivalentes a terroristas”. Para completar, defendem que, se um líder é admirado por seu trabalho, não há motivo para que deixe o cargo de presidente.

Em conversas em locais discretos, muitos dissidentes admitem que temem por suas vidas. A maioria tem suas atividades limitadas e não quer ter seu nome citado. São jornalistas, economistas e líderes comunitários que dizem tentar, de dentro de Cuba, promover reformas e promover um debate sobre a situação na ilha. Todos eles dizem que o apelo por mudanças não vêm de Washington ou de Miami, mas dos próprios cubanos.

Vários dissidentes alertam de que as reformas na economia que haviam sido prometidas por Raúl jamais ocorreram. “Cuba não tem um projeto para os próximos anos”, afirma o dissidente Dagoberto Valdés. “A ideia de que poderia seguir o modelo chinês de reformas, com uma abertura econômica e mantendo o sistema comunista, não está sendo aplicada. O governo sabe que, no momento em que iniciar isso, perderá o controle sobre a sociedade”, acrescenta.

Crise econômica

Valdés é um exemplo de como a repressão política continua pairando sobre os cubanos. O temor é tão presente que, quando a reportagem chegou à sua casa, uma pessoa da família que atendeu insistiu que aquela não era a residência do dissidente – temia que o repórter fosse um policial. Pouco depois, enquanto a entrevista era feita, Valdés mandou um assistente vigiar a porta.

“A verdade está sepultada em Cuba”, afirmou Valdés. “O sistema já afundou e todos estão vendo isso. O que se vê nos discursos e na imprensa oficial é a ‘Cuba virtual’. A ‘Cuba real’ é a da opressão, da falta de condições e ameaças”, emendou Valdés, um religioso que publica e distribui de forma clandestina a revista Convivencia, que debate a situação em Cuba.

“A reforma econômica foi enterrada, com a desculpa de que o país vive uma crise”, acrescenta. Na população, o sentimento é de ambiguidade. Muitos estão cansados de viver essa situação e querem liberdade. Mas temem perder as garantias de acesso à escola, saúde e alimentação.

O governo sabe que, se não mantiver a sociedade com acesso aos alimentos, corre o risco de ver uma proliferação de protestos. Por isso, coloca todo seu empenho em garantir comida, mesmo que tenha de cortar recursos de outras partes do orçamento. Ainda assim, na cesta de produtos básicos que são vendidos por um preço mínimo, alguns itens – como legumes – começam a ser retirados da “libreta de abastecimiento”.

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