Começa a investigação sobre trabalho indígeno forçado na Bolívia

Uma comissão iniciou hoje a investigação sobre a existência de famílias de índios guaranis vivendo em regime de servidão em fazendas da região do Gran Chaco boliviano, uma crise que veio à tona com o atual conflito com os proprietários rurais.

As autoridades anunciaram a abertura de uma investigação sobre o caso após um violento enfrentamento, no dia 13 de abril, entre produtores agropecuários e uma missão de guaranis chefiados pelo vice-ministro de Terras, Alejando Almaraz, que tentaram entrar na cidade de Cuevo, em Santa Cruz, para ultrapassar o bloqueio dos agropecuários e redistribuir terras a 500 famílias indígenas que vivem sob regime de servidão.

O conflito deixou 51 feridos e a missão foi expulsa pelos proprietários rurais, que bloquearam as vias de acesso à Argentina e ao Paraguai por 12 dias em protesto contra a redistribuição de terras aos indígenas que o governo pretende fazer.

Os produtores acusam o governo de ter a intenção de entregar as terras aos indígenas para, com base em seu novo projeto constitucional, assegurar seu controle sobre as jazidas de hidrocarbonetos da região e enfraquecer os projetos de autonomias departamentais, reivindicados pelos departamentos (estados) de Santa Cruz, Tarija, Beni, Pando e Cochabamba.

A missão investigativa começou a trabalhar hoje em Camiri, capital da província de Cordillera no departamento de Santa Cruz, com a participação de parlamentares da região, representantes da assembléia dos Direitos Humanos, das Igrejas Católica e Metodista e dos sindicatos de imprensa.

Segundo informes de organismos internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), de membros da Igreja Católica e dos próprios guaranis, centenas de famílias indígenas que vivem na região do Chaco, composta pelos departamentos de Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca, recebem apenas moradia e comida por seu trabalho em fazendas. Além disso, são alvo de medidas repressivas violentas por parte dos proprietários rurais e mulheres, crianças e idosos são obrigados a cumprir longas jornadas de trabalho.

O caso é motivo de desentendimento entre o presidente boliviano, Evo Morales, e o cardeal Julio Terrazas, em paralelo à intermediação entre governo e oposição realizada pela Igreja Católica, a pedido de Morales, para facilitar o diálogo sobre as mudanças constitucionais no país. 

O cardeal pediu provas sobre os casos de "escravidão" denunciados pelo vice-ministro Almaraz, que afirmou ter usado o termo no sentido figurado para se referir à servidão.

Morales considerou-se "traído" pela posição de Terrazas e recorreu aos bispos da Igreja Metodista para a intermediação do diálogo com a oposição.

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