Camponeses esperam do novo governo paraguaio reforma agrária ampla

Uma reforma agrária ampla e integral que, além de distribuir terras aos camponeses, proporcione o acesso a serviços de saúde e educação gratuitos e de qualidade para as famílias, é o que esperam os camponeses paraguaios do novo governo. A informação é de Elvio Trinidad, presidente da Associação de Produtores Agropecuários (APA), organização que integra o Movimento Campesino Paraguaio (MCP). Eles querem também crédito e assistência técnica.

?Nós pretendemos uma reforma agrária integral, que abarque todos os serviços como a saúde, a educação, para que as comunidades campesinas sejam beneficiadas, para que o campesino possa ter sustento, desenvolvimento nas comunidades?, afirmou.

Com voto declarado em Fernando Lugo, presidente eleito, Trinidad vive em um assentamento na comunidade de San Isidro, município de Juan Manoel Frutos, a cerca de 200 quilômetros da capital – Assunção. A área de 3,2 mil hectares foi distribuída na década de 1970 pelo então presidente, general Alfredo Stroessner, a 322 famílias que vivem do plantio de milho, mandioca e feijão.

O presidente da associação defendeu que antes da reforma agrária pretendida seja realizado um cadastro nacional de proprietários de terras e regulamentação dos latifúndios. A partir daí, com a definição das grandes propriedades improdutivas, essa áreas seriam desapropriadas já com a previsão de uma verba para a construção e manutenção de escolas, postos de saúde e hospitais.

A região é de conflito entre pequenos produtores assentados e grandes produtores de soja, a maioria brasileiros. Cerca de 5% do território já foram ocupados pelos grandes produtores, e os camponeses querem que a área seja desapropriada e direcionada a famílias assentadas.

?Aqui neste país está sendo desenvolvida uma agricultura baseada na monocultura, cada vez mais nossas terras são concentradas, o que permite a monocultura com alto índice de agrotóxico e gera muita pobreza e muita desigualdade; cada vez mais é empobrecida uma grande quantidade da nossa população?, disse Trinidad.

O último conflito, segundo o dirigente camponês, ocorreu no ano passado, em um confronto com a polícia. Ele contou que 12 campesinos foram presos.

?Há que dizer ao governo do Brasil que ele deve se ocupar em resolver o problema econômico no país, porque muitos brasileiros pobres vêm aqui somar conosco a miséria, a pobreza; então, essa questão tem que ser vista porque os brasileiros pobres são utilizados pelos grandes capitais multinacionais?, afirmou.

Apesar de o dirigente dizer que os inimigos dos campesinos não são os pequenos produtores do Brasil, a agricultora brasileira Roseli Oliveira disse que já sofreu represálias por parte dos paraguaios. Funcionária de outro brasileiro produtor de soja, ela conta que foi denunciada porque tinha uma pocilga em sua propriedade. ?Falaram que aqui não podia ter isso, denunciaram e a polícia veio?, contou.

Ela disse ainda que apesar de a terra estar legalizada, se preocupa com a proposta de reforma agrária do presidente eleito, Fernando Lugo, pois teme perder a propriedade. ?A gente não está no país da gente e no país dos outros a gente não pode fazer o que quer?, concluiu.

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