Argentina: Vice assume, mas Cristina continua a decidir

O vice-presidente da Argentina, Amado Boudou, assumiu interinamente a presidência nesta segunda-feira, mas as decisões de governo continuarão sendo tomadas pela presidente Cristina Kirchner, informou uma fonte da Casa Rosada. No último sábado, uma equipe de médicos aconselhou repouso de 30 dias para a presidente, após ser diagnosticada com hematoma cerebral, consequência de um traumatismo craniano produzido por um tombo – que ainda não foi devidamente explicado pelo governo.

Apesar do repouso, Cristina manteve reuniões ontem com assessores mais próximos e deve continuar reunindo-se com seus homens de confiança: o secretário de Assuntos Legais e Técnicos, Carlos Zannini; o chefe de Gabinete, Juan Manuel Abal Medina; e o secretário da Presidência, Oscar Parrili; além do filho Máximo.

Segundo os médicos, a situação clínica da presidente não é grave e não necessitaria de cirurgia, já que o repouso ajudaria a reabsorção do hematoma. Por isso, Boudou ficará encarregado das funções meramente protocolares nesse período, como solenidades públicas. “A presidente está em suas plenas funções para tomar decisões”, disse a fonte. “O repouso é preventivo e ativo.”

Cristina, no entanto, não poderá participar ativamente da reta final da campanha para as eleições parlamentares do dia 27 de outubro. Depois da derrota sofrida nas primárias de agosto, ela vinha tentando reverter o cenário eleitoral, mas pesquisas apontam um novo resultado ruim para seu partido, o Frente pela Vitória (FPV), sublegenda do Partido Justicialista, que poderia perder o controle do Senado e ganhar alguns assentos na Câmara. No entanto, pelas pesquisas, o governo teria que sepultar a ideia de obter maioria qualificada para promover uma reforma constitucional que habilitaria Cristina a concorrer a um terceiro mandato em 2015.

Desgastado – Boudou regressa ao centro do cenário do governo após um forte desgaste político pelas inúmeras denúncias e processos que o investigam por supostos atos de corrupção. O processo mais grave é o denominado caso Ciccone, no qual é acusado de enriquecimento ilícito e por negócios incompatíveis com a função pública. Quando Cristina foi reeleita, com 54% dos votos, escolheu Boudou como seu parceiro e ele era apontado como um possível sucessor. Desde que as denúncias estouraram, Boudou passou a ser o político com a pior imagem pública do país.

Sem prestígio político e envolvido em denúncias, Boudou foi relegado a segundo plano pela Casa Rosada e Cristina deu ordens para que ele não se envolva na campanha eleitoral deste ano. Além disso, o filho de Cristina, Máximo, é um claro desafeto de Boudou porque ouviu uma gravação telefônica na qual o vice-presidente falou de maneira inadequada sobre a presidente.

Máximo também não gosta do estilo playboy do vice, que apareceu em fotos e vídeos tocando guitarra em shows, andando em motocicletas de luxo e dando beijos escandalosos na namorada em noites de baladas.

Boudou é desafeto também do ministro de Transportes, Florencio Randazzo, e do líder da bancada governista no Senado, Miguel Pichetto. Nos bastidores da política, as informações são de que Randazzo vazou para a imprensa informações que vincularam Boudou com o caso Ciccone.

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