Animais de estimação no divã

A ?humanização? de animais de estimação, verificada com freqüência nos dias atuais, vem trazendo prejuízos tanto aos próprios bichos quanto a seus proprietários. Prova disso é que é cada vez maior o número de zootecnistas e médicos veterinários que procuram se especializar em comportamento animal.

Tidos como verdadeiros psicólogos, esses profissionais são acionados para sanar problemas que podem comprometer o bom relacionamento entre homens e bichos.

Segundo o zootecnista Paulo Renato Parreira, que trabalha com comportamento, os principais transtornos dizem respeito aos cães. Ele conta que costuma ser bastante procurado por pessoas que chegam a pensar em se desfazer de seus cachorros porque já não agüentam mais a ?falta de educação? dos bichinhos.

?Geralmente os proprietários chegam desesperados porque o animal costuma destruir a casa, faz suas necessidades em locais inadequados, vem demonstrando agressividade ou late compulsivamente. Na maioria das vezes, as pessoas toleram esse tipo de comportamento até que o bicho tenha um ano ou um ano e meio de idade, por acharem que é coisa normal de filhote. Isso faz com que elas procurem o especialista em comportamento tardiamente, quando a situação já passou dos limites?, comenta.

Paulo conta que gosta de realizar a primeira consulta em domicílio. No local, ele senta com o dono do animal e tem uma conversa longa, onde investiga sobre os hábitos da casa, rotinas e pessoas que convivem com o cão. Tudo isso contribui para que a causa do problema comportamental seja diagnosticada. ?A maioria dos transtornos são causados pelo meio. O animal pode começar a agir de forma incômoda, por exemplo, quando é deixado muito tempo sozinho, pertence a uma raça que é imprópria aos hábitos do proprietário ou por falta de informação do próprio dono, que desconhece suas necessidades e também o trata de maneira errada?.

O excesso de mimos é freqüentemente classificado como negativo. De acordo com o zootecnista, muita gente -principalmente casais sem filhos, pessoas solteiras que vivem sozinhas ou mesmo casais aposentados que já não desfrutam da companhia constante dos filhos – adquirem cães e passam a tratá-los como verdadeiros bebês, depositando neles uma série de expectativas e mesmo frustrações. Isso faz com que o animal perceba o quanto é importante, comece a demarcar território e passe a se comportar como se fosse o líder da casa, não aceitando ordens e comandos. ?O cão é realmente como se fosse uma criança. Se você o mima demais, ele abusa de você. Não há nada de errado em brincar com o animal e dar carinho. Os excessos é que são ruins, pois fazem com que o bicho tenha uma dependência exagerada de atenção?.

Quando isso acontece, o cachorro pode passar a demonstrar mudanças de comportamento diante de situações novas, como por exemplo o nascimento de mais um integrante da família (o que faz com que a atenção dos donos possa vir a ser desviada) ou mudanças de horários dos proprietários. Na maioria das vezes, as coisas consideradas erradas são feitas pelo animal na tentativa de chamar a atenção. ?Até levar uma bronca é visto como forma de ser lembrado?.

Tratamento

O tratamento de problemas comportamentais varia de caso para caso, mas consiste basicamente em mudanças de atitude dos donos em relação ao animal. Algumas vezes, a solução pode ser ignorar as travessuras do cão, por mais que isso possa parecer difícil. ?Os proprietários devem saber que a correção só adianta no momento em que o erro é cometido. Se ela for tardia, pode até surtir efeito contrário ao desejado?. O tempo de tratamento também varia, podendo durar de um mês até mais de seis. Em qualquer situação, a participação do proprietário é fundamental. Entregar o animal ao profissional especialista em comportamento e esperar que ele volte mudado é considerado quase impossível. 

Alterações hormonais causam a pseudociese

Outro problema que gera alterações de comportamento é a pseudociese ou ?falsa prenhez?, considerada relativamente comum em cadelas não castradas. Ao contrário do que muitos proprietários de animais vítimas da doença acreditam, a pseudociese, segundo o médico veterinário Luiz Fernando Sabadine, não é o mesmo que gravidez psicológica. ?O problema é causado por alterações hormonais (diminuição da produção de progesterona e aumento da produção de prolactina) que levam a alterações comportamentais e psicológicas?, esclarece.

A falsa prenhez pode ser observada tanto em fêmeas que já tiveram filhotes quanto em que nunca tiveram. Ela geralmente acontece algumas semanas antes do cio, podendo ser passageira (com duração de até duas semanas) ou persistente, quando se faz necessário o uso de medicamentos.

O veterinário informa que, devido a mudanças na estrutura orgânica da cadela, a mesma pode começar a se comportar como se realmente estivesse prenha, confundindo até mesmo os proprietários. Ela passa a produzir leite e tem o volume da barriga aumentado. ?O animal pode ficar estressado, fazer auto-amamentação, construir ninho e até adotar um outro animal mais jovem ou mesmo um bichinho de pelúcia como filhote?.

Conforme informações de Luiz Fernando, a falsa prenhez pode, em médio e longo prazos, camuflar problemas de útero e tumores de mama. Por isso, o problema nunca deve ser considerado normal e o animal que apresenta os sintomas deve passar por avaliação veterinária. O tratamento pode envolver mudanças na alimentação e uso de medicamentos que reduzam a produção de leite. (CV)

Animais também sofrem com a solidão

Outro fator que pode desencadear problemas de comportamento em cães é a solidão. O zootecnista Paulo Renato Parreira esclarece que os animais – na natureza ou mesmo soltos nas ruas – costumam viver em grupos. Por isso, é muito difícil para eles conseguir viver desprovidos da companhia de pessoas ou mesmo de outros bichos.

?Alguns cachorros, de temperamento mais tranqüilo, podem viver bem sozinhos, mas a maioria gosta de companhia. Quando o cão não tem com quem brincar ou mesmo o que fazer, pode começar a ter atitude desagradáveis aos proprietários?, explica.

Algumas atitudes incômodas podem destruir móveis e objetos, arranhar a porta o dia todo, latir compulsivamente, demonstrar agressividade diante de pessoas estranhas, entre outras. A solução do problema também varia conforme o caso, mas existem algumas consideradas mais comuns. ?Muitas vezes, a solução pode ser adquirir um segundo cachorro, que venha a fazer companhia ao que sofre de solidão. Porém, isto deve ser muito bem estudado, pois também pode gerar ainda mais transtornos caso os dois bichinhos venham a ter um mal relacionamento?.

Outras alternativas apresentadas costumam ser levar o animal para passear com maior freqüência, dar-lhe brinquedos, colocar guloseimas dentro de garrafas plásticas para que ele se distraia tentando pegá-las ou até mesmo deixar um aparelho de TV ou rádio ligado, para que a casa não fique tão silenciosa e, de vez em quando, o bichinho possa se distrair observando as imagens. (CV)

Banhos de imersão acabam com o estresse

Alguns pet shops brasileiros têm procurado acabar com o estresse dos cães através de banhos de imersão em banheiras de ofurô. Os estabelecimentos garantem que, além de proporcionarem relaxamento, os banhos melhoram a circulação sangüínea e propiciam a eliminação de toxinas corporais.

?Os animais têm os mesmos benefícios que as pessoas percebem nelas mesmas ao serem submetidas ao ofurô?, garante a proprietária do pet shop Bicho Mimado, em Curitiba, Marizete Regina Zanchet. ?Os banhos relaxam e ainda servem para aliviar dores nas articulações causadas pelo envelhecimento, problemas ósseos e contusões?.

Os banhos acontecem com água morna e em banheira produzida com cedro rosa. Na maioria das vezes, são utilizados cristais, essências e pétalas de rosa. A duração varia de dez a quinze minutos e o animal é sempre mantido na companhia de um profissional. Em Curitiba, a técnica de relaxamento pode ser encontrada, em média, por R$ 12. (CV)

Voltar ao topo