Alma de um jornalista

Nasceu em Campo Largo, filho de imigrante árabe que se casou com filha de imigrantes italianos (Salomão Elias Féder e Margarida Chemin), estudou no Grupo Escolar D. Pedro II, a cem metros da casa onde morava, para depois fazer o ginásio em Curitiba, viajando diariamente de ônibus em estrada sem asfalto por hora e meia em 33 quilômetros, no bom tempo e sem acidente, o que significava almoçar às 13h, retornando para jantar lá pelas nove da noite. Parece incrível imaginar que hoje se vai a Campo Largo quase tão rapidamente, às vezes até mais, do que se demora para enfrentar o trânsito para chegar ao Portão, onde nos chamados bons tempos ia visitar os parentes de bonde? Devagar, tranqüilo, admirando a paisagem e sempre com hora certa…

Imaginou ser craque em futebol, comprou bola, convidou amigos para formar um time, proclamou-se capitão da equipe e escolheu a posição, pois queria fazer gols, centroavante. Até fez um ou outro, mas teve raciocínio suficiente para compreender que não teria futuro. Veio a Curitiba continuar estudos, morando em casa de parentes, tia Badia e João Fadel; ah, que saudade do quibe e dos charutinhos da tia Badia. Ali nas Mercês… como era longe da ?cidade?.

Fez amizade com uma pessoa diferenciada e ?imortal?: dr. José Cadilhe de Oliveira, o mais nobre dos ponta-grossenses, e se tornaram irmãos de alma. E é dele a culpa de leitores terem que suportá-lo nos dias atuais. Levou-o a escrever no Paraná Esportivo, especializado de José Mugiatti Sobrinho e Ézio Zanelo, que marcou época na imprensa araucariana e deixou lacuna incompreensível.

Sonhando em ser diplomata, fez exame de admissão (hoje vestibular) na Faculdade de Direito da gloriosa Universidade Federal do Paraná, recebendo ensinamentos de mestres de escola, a exemplo de Ernani Guarita Cartaxo, Ildefonso Marques, Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, Laertes Munhoz, Brasil Pinheiro Machado e outros pacientes e sábios professores aos quais a memória genuflexamente pede perdão.

Enquanto estudava e escrevia na imprensa, foi convidado pelo hoje dr. Colombino Grassano, mais tarde deputado e prefeito de Arapongas, e ingressava no rádio para uma carreira de três décadas, fazendo quase tudo na saudosa Rádio Guaricá, a voz nativa da terra dos pinheirais, ?slogan? criado pelo gênio de Aluizio Finzetto.

O rádio foi sua segunda ?universidade?, onde muito aprendeu, notadamente sobre música clássica com o tenor Humberto Lavalle. Uma escola na emissora que disputava com a Rádio Clube e audiência paranaense. Pequeno paradoxo: o jovem era da oposição, filho de pai udenista e aficionado do brigadeiro Eduardo Gomes, trabalhando para empresa do governo Moysés Lupion, dirigida por Murilo Lupion. Ali cresceu e se projetou.

Exercendo advocacia, fez juris, libertou alguns inocentes, outros não tanto, e aconselhou os piores a que fugissem. Mas tinha alma de jornalista.

Na redação de O Estado do Paraná, chefiada pelo eficaz Freitas Neto, certo dia sentiu no ombro a mão de Afonso Alves de Camargo Neto, sócio de Aristides Merhy, donos do jornal, dizendo: – Você, que é a melhor cabeça dessa redação, bole um jornal para vender 500 exemplares no fim da tarde, nas filas de ônibus. Passou uma semana e voltou: – Pronto? – Ainda não. – Como, um jornalzinho para vender 500 no final da tarde? Não Fernando, vamos fazer um jornal para Curitiba. – O quê? – Sim, um jornal para o qual será mais importante um mendigo esmolando na Praça Tiradentes do que um avião explodindo no Japão. E o saudoso João Baptista de Moraes (que saudade!) sugeriu: ?Folha do Paraná?. Teve de discutir e quase ?brigar? mas venceu: Tribuna do Paraná. E assim nasceu esse que era para ser um vespertino para vender 500 exemplares no fim da tarde e que acabou conquistando a maioria dos leitores, tornando-se coqueluche da cidade. Hoje, todos sabem muito bem disso.

P.S. – O jovem campo-larguense, que hoje alguns lêem, atende pelo nome de João Féder. Pequeno detalhe: seu pai foi ao cartório para o devido registro. Parabéns, ?seu? Salomão. Como é o nome do filho? É João Faddah (do árabe, significando Prata, tanto que o apelido na juventude era ?Pratinha?). Então Salomão Elias Prata. E enquanto conversavam o escrivão escreveu Féder. Outro detalhe: Um parente de seu pai foi aos EUA e ao chegar perguntaram-lhe o nome? Henri Faddah. Resultado: Henry Fonda.

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