Mulheres na política

Uma candidata a vereadora em Curitiba propunha ao eleitor bombardeado por apelos eleitorais um olhar feminino sobre a cidade. Não explicava o conteúdo desse olhar, mas a frase tinha a pretensão de ser auto-explicativa. Afinal, dizem que as mulheres enxergam as coisas de uma forma diferente da dos homens. E há quem acredite nisso. Na capital do Paraná, cinco mulheres – de um total de 39 vereadores – foram eleitas. Nos 399 municípios paranaenses, vinte deles serão governados por mulheres nos próximos quatro anos, a partir de primeiro de janeiro próximo. Não só o olhar, mas espera-se que a forma de governar também seja diversa. E para melhor.

No cenário nacional, a principal mulher em disputa – a derrotada Marta Suplicy, de São Paulo – também tentou tirar proveito de sua condição feminina. Dizia-se discriminada. Levou azar e uma diferença de milhares de votos. Em compensação, quem, de fato, fora discriminada pelo PT desde o início – a loira Luizianne Lins, de Fortaleza – acabou dando à nação a mais expressiva vitória feminina das eleições de 2004. No mundo feminino, a história também imita o mundo masculino, diriam inveterados machistas: rei morto, rei posto. O novo ídolo nacional chama-se, portanto, Luizianne. E ela já ensaiou dizer a que veio: quer “radicalizar a democracia”. Sem alinhamentos automáticos e burros. E baratear a passagem de ônibus em sua cidade como forma de distribuição de renda.

No domingo que passou, além de Luizianne, apenas outra mulher (sete delas concorriam no segundo turno em 43 prefeituras) foi eleita – Marília Campos, de Contagem, Minas Gerais. Além da capital do Ceará, Boa Vista é a outra capital cujos eleitores confiaram o comando a uma mulher: Teresa Jucá é a prefeita eleita.

Para o comando das cidades brasileiras – exatos 5.561 municípios – apresentaram-se 1.498 mulheres, das quais foram eleitas 404. Ou seja, 7,32% do total. Das mais de 76 mil candidatas ao Legislativo, foram eleitas 6.555 – o que significa 12,65% do total de vereadores escolhidos. Na eleição municipal passada, as mulheres eram 11,61% dos vereadores e 5,70% dos prefeitos. O crescimento da participação feminina foi, portanto, de um ponto percentual para as câmaras municipais, e um pouco maior (1,6 ponto) para as prefeituras. Em números absolutos, o total de prefeitas cresceu 27,4%, enquanto o de vereadoras caiu devido à canetada do Tribunal Superior Eleitoral na prolixa vereança nacional.

Comparando percentuais, a socióloga e diretora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria – Cfemea, Almira Rodrigues, achou o resultado decepcionante. “Esperávamos um aumento maior. Nesse ritmo, levaremos décadas para equilibrar a relação de homens e mulheres no poder”, profetizou a socióloga. A lei, segundo se sabe, reserva o mínimo de 30% e o máximo de 70% das vagas para as disputas eleitorais proporcionais (vereador, deputado estadual e federal), por partido ou coligação, para cada sexo. Mas o desinteresse feminino pela política (há quem alegue outros fatores) fez com que, em todo o País, nenhuma legenda tenha alcançado o mínimo de candidatas previsto em lei. Para vereadoras apresentaram-se apenas 22,14%, enquanto que para as prefeituras o índice foi ainda menor: 9,33%.

Almira Rodrigues volta à carga e quer mudanças na lei eleitoral para garantir o equilíbrio entre homens e mulheres. Sugere, entre outras coisas, a adoção do que chama de “lista fechada de candidatos”. O eleitor votaria apenas no partido e, este, depois, montaria a lista, observando a proporcionalidade entre os sexos. A fórmula retiraria, assim, as mulheres da disputa direta. Uma tragédia, sem dúvida.

Ora, temos para nós que não é por aí que o Brasil vai alcançar a participação consciente e ativa das mulheres no processo político nacional. Não é qualquer mulher – assim como não é qualquer homem – que merece chegar lá onde os eleitores, igualmente homens e mulheres, confiam a realização de suas esperanças. Mesmo tendo olhares diferentes sobre muitas coisas.

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