Mudanças ou promessas?

Em artigo que escreveu para a revista do Fórum Econômico Mundial, sob o título "Minha visão", o presidente Lula admite que nos dois primeiros anos de seu governo fez menos do que a sociedade brasileira exige. Parece, entretanto, que ele acredita que fez mais do que ela estava esperando, o que não é verdade, porque suas promessas foram tantas, tão grandes, quase delirantes.

Ele acredita numa verdade: o que o povo precisa e quer é uma mudança de rumos, pois os governos anteriores alguma coisa fizeram, só que no caminho errado, alcançando progressos insuficientes e que beneficiaram minorias. O que se pede é que a nação inteira se beneficie do que fizerem os governos.

Lula admite que nos dois primeiros anos de seu governo apenas plantou. E que nos dois próximos vai fazer a colheita.

Oxalá seja verdade, pois se conseguiu consolidar os estamentos econômicos do País e recuperar sua credibilidade, 2005 e 2006 poderão ser mais profícuos.

Se considerarmos o último ano do governo FHC, é verdade que nos dias de hoje há muito mais credibilidade e estabilidade que então. Mas não nos esqueçamos que aquele foi um período de desconfianças e o motivo era exatamente a mudança de governo. E o medo de mudanças. O mundo e o mercado em geral temiam um governo Lula com o conteúdo que ele prometia trazer. Um governo em que pudesse haver desrespeito aos contratos, inclusive internacionais, e instabilidade para os capitais investidos. Tal suposição, se concretizada, levaria à fuga dos já existentes e outros não viriam. Nosso destino seria desastroso.

Com Lula, o Brasil não mudou. Foi Lula quem mudou, aplicando uma política econômica ortodoxa de produção de superávites para pagamento da dívida externa; respeitando os contratos e buscando fazer com que o mundo acredite que, sob seu comando, aqui passou a ser um sítio mais seguro para investimentos.

Por isso, vamos encontrar na imprensa estrangeira – e um bom exemplo é o mais recente artigo sobre o Brasil publicado no El Pais da Espanha -, análises com críticas contundentes e paradoxais. Disse aquele jornal que "Lula faz sucesso na economia e papelão no social". O que esperavam, quando demonizavam sua candidatura, era exatamente o inverso. Que fizesse papelão na economia e sucesso no social, nem que fosse através de medidas revolucionárias inconsistentes e de curta duração.

Não ocorreram as mudanças que Lula apregoa e das quais se gaba. Seu governo em pouco difere do anterior. Mas o simples fato de que acredita estar mudando o País e tenha postergado para a segunda metade do seu mandato a colheita do que imagina haver plantado, já é um alento. Olhando para o nada da primeira metade, ver-se-á impelido a produzir nos derradeiros anos deste seu mandato. Isso porque pode ser um presidente equivocado, mas ninguém ousaria considerá-lo mal-intencionado.

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