Movimento tem mais esperanças em Hugo Chávez que em Lula

A Via Campesina deposita mais esperanças no governo do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, do que no de Luiz Inácio Lula da Silva. Seus líderes acreditam que o presidente venezuelano conseguirá manter o território de seu país livre de transgênicos, executará uma extraordinária reforma agrária e ajudará a impulsionar os movimentos sociais. Ao mesmo tempo, criticam a forma como Lula agiu na questão dos transgênicos, a lentidão na execução do Plano Nacional de Reforma Agrária e a política econômica do ministro Antonio Palocci (Fazenda).

Outro fator decisivo na comparação entre os dois presidentes é a posição que cada um deles assume frente à Organização Mundial do Comércio (OMC). Enquanto Chávez é elogiado por enfrentar a organização mundial, Lula é acusado de complacência. "É deplorável a maneira como o governo Lula tem agido, favorecendo as negociações com a OMC e, pior de tudo, pleiteando uma secretaria naquela organização", disse Paul Nicholson, um dos líderes europeus do movimento, ao lado do polêmico francês José Bové.

Discursos à parte, a Via Campesina e o governo brasileiro se dão bem. Em junho, o ministro José Dirceu, da Casa Civil, saudou os participantes da conferência internacional da organização com uma mensagem na qual dizia que o governo estava orgulhoso por terem escolhido o Brasil. Por sua vez, o ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário, mantém um diálogo permanente com os líderes da entidade.

Mas o preferido é sempre Chávez (depois de Fidel Castro, eterno ícone do grupo). Em 2003, quando simpatizantes e opositores do presidente venezuelano se enfrentavam nas ruas, a cúpula da Via Campesina divulgou uma nota manifestando firme apoio a ele. Redigida na Bélgica, onde se encontravam reunidos os líderes campesinos, ela criticava "setores recalcitrantes da Venezuela que querem manter seus privilégios e se opõem aos esforços de redução das diferenças sociais."

A simpatia é recíproca. Quando foi a Porto Alegre, para participar do Fórum Social Mundial, o presidente venezuelano visitou um assentamento do MST, amarrou no pescoço o lenço verde da Via Campesina e, lado de João Pedro Stédile, anunciou: "Após o grande triunfo popular de 15 de agosto, estamos entrando em uma nova etapa e uma de suas linhas estratégicas será o ‘não ao latifúndio’."

Em seguida, Chávez reuniu-se à parte com um grupo selecionado de militantes da causa agrária. Entre eles, de camisa branca, chapéu de palha e sorriso aberto, encontrava-se o bispo católico d. Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

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