Motivo inconsistente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu posse ao deputado federal Edson Santos (PT-RJ) no cargo de secretário das Políticas de Igualdade Racial, emprego com status de ministro, na vaga ocupada por Matilde Ribeiro até o estouro do escândalo dos cartões de crédito corporativos, o mais recente da era lulista.

Para evitar que o novo auxiliar perca o mandato na Câmara dos Deputados, pois só pode obter licença se for nomeado ministro de Estado, Lula aproveitou para anunciar que acabara de assinar medida provisória transformando a secretaria especial em ministério, sob o aplauso desmedido da maioria de funcionários lotados no próprio órgão, petistas de carteirinha e representantes do movimento negro, que serviram de paisagem para a posse de Santos.

O presidente não perdeu a oportunidade de fazer graça com a situação, ao revelar que ainda não havia pensado na solução que será constrangido a tomar quando titulares e servidores graduados das secretarias especiais da Pesca, Direitos Humanos e Mulheres, onde grande parte dos fiéis camaradas se arrumou, o procurarem para reivindicar o mesmo tratamento.

A sociedade decerto está-se perguntando desde o discurso do presidente na posse do novo ministro, afinal, quais foram as razões supervenientes que levaram Matilde a perder a boquinha no governo. Isso porque o presidente afirmou que ela teve de deixar o cargo ?apenas por falhas administrativas?. Segundo a hermenêutica certamente aprendida nos velhos tempos do sindicalismo no ABC, o traquejado Lula sentenciou que Matilde jamais cometeu qualquer ?crime ou delito?.

Para início de conversa, não consta que alguém tenha acusado a ex-ministra de ter cometido tais atrocidades no exercício do cargo. Mas, se a mesma foi induzida a se exonerar a fim de salvaguardar a dignidade em processo de solapamento, os pequenos deslizes invocados por Lula constituem argumento paupérrimo e sem a menor consistência para que se abandone um colaborador pessoal à fúria da tempestade. ?Eu disse a ela que não compensava ficar em um cargo para ser massacrada e triturada, como ela foi durante dez dias consecutivos?, discursou o presidente.

Nos dez dias do ?massacre? a que Matilde foi exposta, segundo a versão de Lula, em nenhum momento o governo a defendeu, assumindo por inteiro a responsabilidade de ter distribuído os cartões, mesmo com a falha funcional de negar aos portadores todas as informações necessárias para evitar o uso indevido. É possível que a ministra tenha errado mais que comprar em free shops ou custear férias com o dinheiro da viúva…

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