Morales admite que pode ter sido pouco diplomático na nacionalização do gás

Viena – O presidente da Bolívia, Evo Morales, reiterou hoje sua "admiração" e "respeito" pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E afirmou que, apesar de "alguns" meios de comunicação quererem criar desentendimento, entre eles isso não vai acontecer. Morales também admitiu que pode ter agido de maneira pouco diplomática no processo de decretação da nacionalização do gás: "Quem não pode equivocar-se? Podemos equivocar-nos. Talvez alguns erros cometemos".

Em nova entrevista coletiva concedida no final da tarde de hoje (12), Morales relatava encontro mantido pela manhã com o presidente da França, Jacques Chirac, que o parabenizou pela nacionalização. "Ele me disse: Evo, você começou a dignificar o seu povo depois de 500 anos. O que te falta é como, com diplomacia, explicar e informar essa decisão soberana", contou.

O boliviano disse que agradecia publicamente pelo conselho, recebido com "humildade", admitiu a possibilidade de ter se equivocado e, depois, relatou ter recebido apoio semelhante do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.

Morales negou a possibilidade de confronto com Lula: "Às vezes é fácil que alguns meios de comunicação, com tergiversações, queiram confrontar-nos. Queriam nos fazer brigar, queriam ver-nos enfrentar o companheiro Lula. Isso não vai haver". E completou: "Tenho muitas coincidências com o companheiro Lula, um dirigente operário feito presidente, meu respeito e minha admiração".

Sobre o fato de Lula ter-se dito, por meio do chanceler Celso Amorim, "indignado" com as acusações de Morales à Petrobras ? de que a empresa teria atuado ilegalmente na Bolívia ?, o presidente boliviano também responsabilizou a imprensa por alguns desentendimentos a respeito de sua entrevista de ontem (11). "Em todo caso, podemos ter diferenças. Não conheço a versão do presidente Lula. Se disse que está indignado, pode ser uma posição, seguramente, de seu governo. Nós também podemos estar indignados com empresas que exploram irracionalmente nosssos recursos naturais", disse.

Ontem (11), Morales deu a entender, em sua entrevista coletiva, que o contrato da Petrobras estava irregular, por não ter sido apreciado pelo Congresso da Bolívia, e que também a estatal brasileira estaria entre as empresas suspeitas de sonegação e contrabando. Numa outra entrevista, à emissora brasileira Globonews, Morales também acusou a Petrobras de ter feito espionagem.

Hoje, Morales afirmou que não está expulsando a Petrobras da Bolívia, como aconteceu com a empresa brasileira EBX, de mineração, que atuava na faixa de fronteira com o Brasil (o que, segundo Morales, é inconstitucional). "Necessitamos de sócios que permitam investir, que permitam também resolver com nossos recursos naturais o problema económico e o problema social de meu pais", afirmou, e citou como possíveis parceiros a espanhola Repsol, a venezuelana PDVSA e a Petrobras.

O relato sobre o conselho de Chirac foi feito quando Morales rechaçava comentário publicado na imprensa, segundo um repórter, de que ele agia como uma espécie de títere dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e de Cuba, Fidel Castro. O boliviano esteve com os dois no dia anterior ao decreto da nacionalização.

"Nem governo nem pessoa andam detrás de alguns presidentes, como andaram antes", disse. Ele afirmou que antes, sim, eram títeres do governo dos Estados Unidos ex-presidentes bolivianos como Tuto Quiroga e Gonzalo Sanchez de Losada. "Aqui deve haver respeito mútuo, e respeito muitíssimo o presidente Hugo Chavez. Nenhum títere, nem Evo de Chavez, nem Chavez de Evo. E nenhum títere Evo de Estados Unidos, do governo Bush, Evo de Fidel."

Morales deixou a sala onde concedeu a entrevista coletiva sem responder a uma pergunta dos jornalistas brasileiros sobre a declaração dele de que o Acre havia sido "trocado por um cavalo". Ao levantar-se, com a insistência dos brasileiros, disse: "Que Acre? Eu não conheço nenhum Acre". Sobre a mesa ocupada pelo boliviano, havia um bilhete: "A última pergunta do Brasil não deve ser respondida por seu peso (por su carga)".

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