Missão de Dunga é mudar o estilo de trabalho da seleção

Nem mesmo o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, tem a convicção de que fez o melhor com a escolha de Dunga para técnico da seleção. Ao iniciar as negociações com o ex-jogador, há uma semana, o dirigente tinha o desejo de fazer uma faxina completa no estilo de trabalho dominante nos últimos anos no comando da equipe.

"Já que o Scolari (Luiz Felipe Scolari, técnico de Portugal) recusou, o presidente partiu em busca de uma oxigenação total. E o Dunga foi a preferência dele. Não sofreu influência de ninguém", disse uma pessoa próxima a Ricardo Teixeira. "Sem o Scolari, de que adiantava trazer o Luxemburgo (técnico do Santos) ou o Tite (do Palmeiras) ou o Autuori (do Kashima Antlers)? Seria tudo a mesma coisa.

E a conversa com Dunga foi rápida. Num clube de golfe de São Conrado, no Rio, onde em 2002 Ricardo Teixeira assegurou ao artilheiro Romário que pressionaria Felipão para a sua convocação à Copa da Coréia e Japão – o que não surtiu efeito -, o dirigente impôs as condições ao novo treinador. Explicou que não abriria mão de sua participação ativa no controle da seleção e assegurou-lhe apoio irrestrito.

A empolgação de Dunga com o convite foi tanta que o salário dele não havia sido acertado até ontem. Mas, por ser inexperiente, seus vencimentos serão fixados em aproximadamente R$ 180 mil, quantia inferior aos cerca de R$ 250 mil recebidos pelo técnico anterior, Carlos Alberto Parreira.

A contratação de Dunga só começou a ser desenhada por Ricardo Teixeira depois de alguns fatos e considerações. Com a recusa de Felipão, o presidente ficou dividido entre Luxemburgo e Autuori. Dividido, mas não convencido de que deveria optar por um deles. Durante alguns dias, conversou com outros dirigentes da CBF, notadamente seu tio, o secretário-geral Marco Antonio Teixeira. Queria um treinador disposto a promover uma grande reformulação no elenco.

Chegou a falar de Ronaldo com um de seus assessores mais próximos num tom de desapontamento e de irritação. "O Ronaldo não pode tratar a seleção como uma obrigação. Se quiser, pode voltar ao grupo. Mas vai ter de mudar de atitude. Acabou esse negócio de jogador se recusar a disputar uma competição para descansar", disse Ricardo Teixeira, num de seus desabafos na sede da CBF.

Ele se referia ao pedido de dispensa de Ronaldo antes da Copa América de 2004 e da Copa das Confederações de 2005. Para a diretoria da CBF, Ronaldo não vinha demonstrando interesse suficiente em vestir a camisa da seleção.

Aos poucos, Ricardo Teixeira foi analisando outros nomes para ocupar a vaga de Carlos Alberto Parreira. Contra Luxemburgo, apesar do reconhecimento da CBF de que se trata de um grande técnico, pesava a vida polêmica dele fora de campo. O presidente desistiu de Luxemburgo quando o treinador manifestou publicamente apoio à candidatura de Aloisio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo.

Em outra conversa com seus auxiliares diretos, o presidente reiterou que o envolvimento do novo técnico na campanha política deste ano só poderia trazer prejuízos à CBF. Até porque, Luxemburgo teria errado o alvo. Ao ficar contra José Serra (PSDB), poderia reacender investigações sobre supostas irregularidades de Ricardo Teixeira e da entidade apuradas pelas CPIs do Futebol e da Nike, em 2000 e 2001.

Desde então, dois parlamentares, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) e o ex-deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP), permaneceram na linha de frente das denúncias contra Ricardo Teixeira e a CBF.

Em abril, o dirigente já deixara uma pista de que dificilmente contrataria Luxemburgo, ao ser indagado sobre o perfil do futuro treinador da seleção. "Há alguns livros que você lê, não gosta, e os coloca na estante. E alguns foram colocados na estante. No caso de outros, eu parei (a leitura) no meio e não consegui chegar ao fim", afirmou. A resposta era sobre a possibilidade de Luxemburgo retornar à seleção – teve passagem conturbada pela equipe de 1998 a 2000.

O convite a Paulo Autuori seria concretizado se a seleção se saísse bem na Copa da Alemanha. O novo treinador trabalharia ao lado de Parreira, que seria o coordenador técnico. Com a eliminação precoce da equipe, o plano se desfez. Mas Autuori continuou muito cotado. No entanto, a relação muito próxima de Autuori com Zico, desafeto e um dos principais críticos de Ricardo Teixeira, acabou por determinar outra decisão do presidente da CBF.

Autuori está dirigindo o Kashima Antlers, do Japão. Foi levado para a Ásia por influência de Zico, ex-gerente de futebol do clube .

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